Livro 170 páginas,
45 ilustrações.
60 crônicas e ensaios que identificam personagens, aspectos da
cultura local e sua transformação no século XXI,
propondo ações afirmativas.
Veja
algumas ilustrações e textos no nosso site: www.galveas.com
clicando no ícone 23 DE MAIO DE 1555.
Quem foi Robério Martins, Jorge
de Menezes,
Castelo Branco e outros heróis e bandidos capixabas?
23 DE MAIO
Lançamento itinerante do livro
“DEMOLINDO A IDENTIDADE CAPIXABA”
Kleber Galvêas
170 páginas, 45 ilustrações
R$ 10,00 no lançamento. Após, R$ 20,00.
Lançamento itinerante do livro na Praça
Duque de Caxias, Vila Velha, durante o desfile cívico-militar
comemorativo da "Colonização do Solo Espíritosantensse"
23/05/2011.
Das 9 às 12 horas
Praça Duque de Caxias
(ao lado da banca do Alemão)
Capa.
Das 14 às 18 horas
Sebo Ponto de Cultura
Ivan Pereira
Tel. 3229 4481 * 8816 8058
Das 19 às 22 horas
Ateliê Kleber Galvêas
Barra do Jucu. Tel. 3244 7115
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Dia 28 de maio – 18 às
21 horas
Em frente ao ed. Willian Zogaib
Calçadão da Praia da Costa
Execução do degredado português Robério
Martins em 1555 na Ilha da Forca, Inhoá, Vila Velha, ES.
Robério levantou os índios locais que executaram D.
Jorge de Menezes e D. Simão Castelo Branco.
Tela (120x90cm) de Kleber Galvêas.2000.
23 DE MAIO
Moleque da Prainha de Vila Velha, tinha sete anos em 1955, e daí
em diante acompanhei as comemorações da data maior do
capixaba:
o aniversário da colonização do solo espírito-santense,
iniciada por Vasco Fernandes Coutinho, em 23 de maio de 1535.
As alvoradas festivas aconteciam diante do monumento que chamávamos
de “pirulito”, pertinho da minha casa.
Acordado com salva de canhões à beira mar corria para
a pracinha ou aguardava empoleirado na janela, o desfile das autoridades.
Na década de 1950, seguiam a pé pela Rua Luciano das Neves,
da Prainha para o palanque armado em frente à prefeitura, que
foi
demolida. A nobre comitiva acompanhava a banda do 38º BI, que arrepiava
com dobrados bem ensaiados. Regida pelo maestro
Benício Cavalcante era muito apreciada na cidade. Nas noites
de quintas-feiras fazia retretas no coreto (demolido) que existia junto
ao obelisco, marco da colonização.
Na década de 1960, a alvorada musical com a banda marcial da
Marinha, bem maior e espalhafatosa (características do estilo)
substituiu a sonora e virtuosa banda de música do exército,
e as autoridades passaram a desfilar de carro.
A cerimônia acontecia junto ao monumento inaugurado em 1935, para
marcar os 400 anos da chegada do Donatário Vasco Coutinho.
Singelo, era uma pequena plataforma circular de 1,20 m. de altura com
escada frontal. Do seu centro emergia uma coluna piramidal,
semelhante às “agulhas de Cleópatra”, existentes
em diversas capitais pelo mundo. Na base da coluna havia uma urna fechada
com
placa de bronze, presa por quatro parafusos grandes.
Naquele tempo crianças brincavam sozinhas na praça, mesmo
à noite. Com uma moeda, usada como chave de fenda, a molecada
mais velha abria a urna e dela retirava o crânio de Vasco Coutinho,
para assustar os menores. O crânio e alguns ossos do Donatário
foram depositados ali, depois de vagar 30 anos por armários da
prefeitura. Estavam sepultados no interior da nossa primeira igreja,
localizada à beira mar, demolida no início do séc.
XX, para ser feito o traçado das atuais ruas de Vila Velha.
Um dia notamos o desaparecimento da relíquia. A criançada
ficou alvoroçada e começou a investigar. Descobrimos que
o irmão mais
velho de um dos moleques havia passado no vestibular de medicina. Para
estudar os ossos do crânio, ele encheu o espaço do cérebro
com feijão e umedeceu as sementes: quando elas germinaram aumentaram
de volume, separando ossos soldados de maneira muito
eficiente pela Natureza.
No início da década de 1970, a placa da urna desapareceu.
Ela ficou aberta, servindo de depósito para latas e trapos dos
lavadores
de carro, até o monumento ser restaurado e transformado num relicário.
No dia 23 de maio de 1993, em cerimônia solene, com a
presença do governador, foram colocados na urna: mensagens das
autoridades e populares; jornais do dia; pautas dos noticiários
das TVs e Rádios; livros da nossa história; cédulas
e moedas circulantes; amostras de água das nossas praias, de
todos os mananciais,
rios, córregos do município e da Cesan; amostras do ar;
areia das praias e uma coleção de desenhos escolares.
Foi lacrada com solda
e cimento. A nova placa informava que só deveria ser aberta após
50 anos; mas o relicário não resistiu a uma década:
o monumento
foi inteiramente demolido pela prefeitura em 2002. Não sobrou
vestígio do alicerce.
No séc. XXI, adultos tomam o lugar das crianças irresponsáveis
do século passado, apagam vestígios da nossa história,
demolindo
nossa identidade.
Kleber Galvêas, pintor. Tel. (27) 3244 7115 www.galveas.com atelie@galveas.com
maio/2010
HERÓIS E BANDIDOS NAS RUAS
Jorge de Menezes e Castelo Branco são nomes de extensas ruas
que vão da Praia da Costa ao Centro de Vila Velha e a Jaburuna.
Na Prainha cruzam a Rua Luciano das Neves, passando à esquerda
e à da direita do meu antigo ateliê. Neste trecho são
paralelas
a Rua Vasco Coutinho, estreita e curta.
Dois dos pioneiros da nossa colonização, os das ruas mais
extensas, tiveram vida de heróis e bandidos. Viveram em Vila
Velha,
de 1535 a 1555, nos deixando lembranças dos primórdios
da globalização.
Vasco Fernandes Coutinho chegou ao Espírito Santo para tomar
posse da sua Capitania, mirando no “alvo mestre” da costa
atlântica meridional da América do Sul (Mestre Álvaro).
Guiou a nau “Groria” no sentido desta montanha, a mais alta
junto ao
mar no Brasil, portanto avistada primeiro por quem se aproxima de nós
pelo Atlântico. Aqui embicou em uma ampla baia que
chamou de Espírito Santo. Escolheu a margem sul para desembarcar
e se estabelecer em pequena praia entre dois gnaisses
megalíticos. Onde desaguava um ribeiro cristalino, daí
o nome Praia do Ribeiro, bairro Praia da Costa, Vila Velha. Era dia
23
de maio de 1535, domingo, com céu azul, branco, e púrpura
ou rosa (cores da nossa bandeira), na aurora e no crepúsculo
durante o outono.
Antes de pisar em terra, o experiente explorador “tocou a campainha”
dando a esmo tiros de canhão. Os índios se aproximaram,
e o herói de Málaca, Goa e Alcaide-mor de Ormuz, percebeu
que a situação aqui era muito diferente da que encontrara
na África,
Arábia, Índia e Indonésia. Não havia embrião
de atividade comercial local que propiciasse trocas com a metrópole,
fomentando o
desenvolvimento da Capitania.
Entre os 60 homens que acompanharam Vasco Coutinho nesta empreitada,
destaco D. Jorge de Menezes, da alta nobreza
portuguesa. Este fidalgo estava entre os exploradores mais famosos e
cobiçados no ocidente pela Holanda, Inglaterra, França
e Espanha. Foi ele quem descobriu a Nova-Guiné, segunda maior
ilha do mundo. Herói de guerra, já havia perdido a mão
direita
em batalha, quando foi nomeado Senhor de Ternate, ilha do arquipélago
das Molucas (Indonésia), a maior produtora de
cravo-da-índia no séc. XVI. O porto e a posição
estratégica de Ternate, fez dela o principal entreposto no oriente,
das especiarias
ditas das Índias. O lugar enriqueceu e seu sultão tornou-se
o mais poderoso de toda Indonésia.
Jorge de Menezes, espírito prepotente e belicoso, logo criou
atrito com os nativos de Ternate. Desterrou o sultão com toda
a família,
enviando-os para a longínqua Goa, província portuguesa
na Índia. Como os chefes tribais demonstrassem descontentamento,
convidou-os para uma reunião em sua fortaleza, e todos foram
mortos.
Como conseqüência desse ato covarde, portugueses passaram
a ser vistos com total desconfiança na Ásia. O prejuízo
para
a expansão do Império Português, decorrente dessa
ação criminosa, irritou profundamente D. João III.
O Rei mandou prender
o fidalgo, que levado à corte foi condenado ao degredo perpétuo
no Brasil.
Quando Vasco Coutinho voltou a Portugal, em busca de recursos para desenvolver
a sua Capitania, julgando o degredado
recuperado, após mais de uma década de castigo, entregou-lhe
o governo. Os desatinos do famoso explorador guerreiro
contra os índios provocaram forte reação, culminando
com o seu assassinato. Dois meses depois, o do seu substituto,
também fidalgo degredado, D. Simão Castelo Branco.
Kleber Galvêas, pintor. Tel. (27) 3244 7115 atelie@galveas.com
www.galveas.com maio/2010.
Robério Martins: Procura-se
Em 23 de maio de 1535, Vasco Fernandes Coutinho, chega aqui na Prainha
de Vila Velha, local que décadas depois
receberia o nome de Praia de Araribóia. Foi daqui que o índio
partiu, para ajudar os portugueses a “expulsar” os franceses,
aliados dos Tamoyos, da Ilha de Villegagnon, Baia de Guanabara.
Esta cena está representada na maior tela pintada que existe
no E. Santo, “A PARTIDA DE ARARIBÓIA”. Fica na Assembléia
Legislativa e seu autor Levino Fanzeres, o mais famoso pintor capixaba,
nasceu em Cachoeiro de Itapemirim. A paisagem que
compõe a cena, representada nessa tela, mostra perfeitamente
os contornos da Prainha.
Anos depois, com a ocupação urbana, cada trecho da Prainha
passou a ser conhecido por um nome próprio: Ponta da Uxaria,
Praia da Timbeba, Inhoá, Maria Catoré; os pesqueiros:
Queixo do Burro, Baixas, Oratório, Baliza, Purgatório,
Ilha da Forca.
Neste cenário foi executado por enforcamento Robério Martins,
em novembro de 1555. Adelfo Poli Monjardim, descreve a
execução num artigo publicado em “O MUNICÍPIO”,
nº15, pág. 10, 23 de Maio de 1935. Explica que o motivo
da
condenação foi a morte de D. Jorge de Menezes, e meses
depois, a de D. Simão Castelo Branco. Na ausência de Vasco
Coutinho, em viagem à Lisboa, Robério Martins levantou
os índios contra os dois fidalgos portugueses degredados,
que comandavam a Capitania.
Desta introdução, podemos tirar algumas conclusões
e conhecer melhor a nossa história. Nossa formação
foi diferente,
o sangue dos nossos índios circula nas nossas veias. Eu tenho
uma parcela, e é só olharmos um grupo de capixabas,
para reconhecermos traços dos nossos antepassados.
Acredito que quem insiste em contar a história capixaba falando
em extermínio, não pesquisou, apenas copia a história
de outros lugares da América, ou quer forjar um pedigree puro
sangue.
Araribóia e seus bravos, foram requisitados para a batalha “naval”
na Guanabara, exatamente porque eram bons nadadores
e exímios canoeiros, e isso foi decisivo. O militar português,
Salvador Correia de Sá, governador do Rio de Janeiro, sobrinho
de Mem de Sá, foi salvo a nado por Araribóia, após
um naufrágio. Portanto não faria o menor sentido mudar
a capital para
uma ilha contígua ao continente, para se defender dos índios.
As revoltas contra D. Jorge de Menezes e D. Simão Castelo Branco
foram comandadas por um degredado português,
Robério Martins. Longe de ser uma revolta indígena, eram
os primeiros brasileiros enfrentando a corrupção no poder
estabelecido. Embora sejam nomes de rua na Prainha, a história
aponta os dois substitutos do Donatário, como maus
governantes.
A poesia de Antonino Moreno – 1935, “A ENSEADA DE VILA VELHA”,
em que descreve o cenário da Prainha,
diz no 4º verso:
“A oeste de seu seio – oculta embora, -
jaz a ILHA DA FORCA, onde eram outrora,
punidos, pelas leis, os delinquentes...
No cimo de seu dorso alcantilado,
foi Robério Martins estrangulado...
Talvez que deste solo um TIRADENTES!....”
Página esquecida dos primórdios da nossa história,
que deve ser mais pesquisada.
Nossa formação foi diferente graças à diversos
fatores, entre esses, talvez o cultural, fez melhor a diferença.
Por influência
do principal líder daquele tempo, Pe. José de Anchieta,
filho de um nobre Basco com uma índia de Tenerife, Canárias,
aconteceu a miscigenação.
Não existe registro de um importante guerreiro índio local;
de heróis portugueses ou brasileiros, entre os pioneiros; de
praças
de batalhas , excluindo o Cricaré no extremo norte; nenhuma vila
foi destruída e nossas defesas estavam voltadas para o mar,
preocupados com: franceses, ingleses e holandeses; nossos “fortes”
avançados no interior, eram guarnecidos por 2 ou 3 índios
pedestres, o trânsito sempre foi regular. Frei Brás Lourenço,
trouxe do Rio de Janeiro para o Espírito Santo, o primeiro
contingente expressivo de famílias de colonos. Não eram
europeus, mas índios Temiminós, chefiados por Maracaiaguaçu,
pai de Araribóia.
Criticamos os livros didáticos de história, por privilegiar
os feitos e heróis da guerra, sobre as realizações
culturais. Porque
prosseguir na imitação se a nossa história é
muito mais interessante?
O Capixaba é fruto de um amor oportuno. Em 1500, viviam aqui
índios Tupis espremidos entre os Goytacazes, do norte do
Rio de Janeiro, Pataxós do sul da Bahia e Aimorés ou Botocudos
do interior. Tribos Tapuias, canibais, muito primitivas em
relação aos Tupis. Nossos índios, isolados dos
outros Tupis, vinham sendo literalmente devorados, ao norte, no sul
e a oeste.
Uma aliança, a esperança de salvação, chegou
do mar. Assim a colonização começou aqui, quase
em paz, e com muitas luas
de mel.
Fim triste reservamos agora, no séc. XX, para o cenário
desse idílio, aterramos a Prainha, degradamos o nosso meio ambiente
e a cultura empírica dos nossos antepassados, desprezando seus
conhecimentos.
Gratifica-se a quem encontrar Robério Martins, vivo ou morto
na nossa história. Pistas foram deixadas aqui.
O que certamente não vamos encontrar na nossa história,
são Rosas e Jacksons. O primeiro, eleito presidente da Argentina
por exterminar índios, empurrando os poucos sobreviventes para
o estreito de Magalhães, sul da Patagônia. O Brasil através
de Duque de Caxias, ajudou a expulsa-lo para a Inglaterra, onde morreu.
O segundo, chamado pelos índios de “Faca Longa”
reeleito presidente dos Estados Unidos por exterminar os índios
e desrespeitar a Corte Suprema Americana, favorecendo
ilegalmente os Colonos.
Kleber Galvêas
Assista
a vídeos sobre a instalação e a história
de Robério Martins.