XADREZ E ESCOLA COMBINAM.

Crianças, com informações superficiais sobre jogos de salão, param na vitrine que expõe vários desses jogos e, conhecendo todos eles, escolhem e compram o xadrez. Leem instruções, compreendem como movimentar as peças no tabuleiro e o objetivo do jogo. Então, praticam essa aprendizagem jogando de forma mecânica ou aleatória.
Disputadas algumas partidas com jogadores mais experientes, percebem que no xadrez não há espaço para sorte ou azar, e que conhecimento do jogo, a compreensão dos movimentos das peças e aplicação correta desses fundamentos numa partida, não garantem o sucesso. Aprendem que é preciso observar e analisar as ações do adversário em relação às suas posições, prever e até criar estratégias que induzam jogadas futuras do oponente, articulando o próximo ataque, ou consolidando a defesa. Só após avaliação desse conjunto de possibilidades quase infinitas num tabuleiro de xadrez, podem eleger e realizar uma jogada consciente.
Aplicando um xeque-mate, objetivo final do jogo, os novos enxadristas percorreram níveis cada vez mais elevados da sua relação com o xadrez. Partindo do elementar conhecimento, que permitiu distingui-lo entre outros jogos expostos na vitrine, passaram a compreender, aplicar, analisar, sintetizar, avaliar lances e a partida. Adquiriram intimidade com formas diferentes de pensar.
Para ilustrar a progressiva aquisição de habilidades intelectuais pelo indivíduo em sua preparação para a vida, a aprendizagem do jogo de xadrez é uma analogia interessante.
No mundo atual, onde as fontes de informações se multiplicam, precisamos encontrar novos objetivos educacionais para que a escola seja edificante: interessante, para o aluno e gratificante, para o professor.
A escola, como simples reprodutora de conhecimentos, é uma herança de pouca utilidade para a crescente complexidade da vida. Os órgãos de comunicação, que compõem diferentes mídias à disposição do homem, realizam a difusão da informação com mais qualidade e amplitude do que o professor em aula tradicional. Para recuperar o prestígio, como relevante instituição social, as escolas devem mudar o enfoque dos seus currículos: da informação para formação; de difusão para produção de conhecimentos. Essa transformação requer o desenvolvimento das habilidades intelectuais dos educandos; levá-los a evoluir do nível mais primitivo de relação com coisas e fenômenos (conhecimento), para habilitá-los a avaliar.
Cidadão capaz de avaliar é aquele que experimenta maior liberdade de escolher. Partindo do conhecimento, compreende, aplica sua aprendizagem, realiza análises e sínteses, propõe hipóteses, faz experiências, anotações eficientes, formula teorias, testa resultados e critica a própria atuação.
Dentre todas as prerrogativas adquiridas com a capacidade de avaliação, a que encontra imediata ressonância social, e que faz do individuo um cidadão político relevante é - na eleição do grêmio, associação, sindicato, Legislativo, Executivo - a escolha do candidato. Pessoas esclarecidas que julgam com independência, não aceitam cabresto nem formarão rebanho a ser tangido pelo cajado, latidos de cães, suborno, ou propaganda.
Educar alunos para desenvolverem suas potencialidades cognitivas, afetivas e psicomotoras é prepará-los para o xadrez da vida. Jogado com identidade, liberdade e espírito crítico, nem sempre levará à vitória, mas nos dará segurança e prazer em todas as partidas.
Kleber Galvêas, pintor - Tel. (27) 3244 7115 - www.galveas.com - 11/2009
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