Vittorio Gobbis nasceu em Treviso, norte da Itália, em 1894. A iniciação
artística foi na província natal. Desenvolveu seu talento em
Roma e Veneza, onde se especializou para salvar afrescos. (Foi ele quem resgatou
da parede de um casarão paulista demolido (1965) o afresco pintado por
Antonio Gomide, que está no Museu de Arte Contemporânea da USP).
Participou de importantes exposições na Itália (Quadrienal
de Roma).
Chegou ao Brasil em 1923, e elegeu São Paulo sua cidade. Aqui faturou
as “Grandes Medalhas de Ouro”: Salão Paulista e Salão
Nacional de Belas Artes-Rio (1933/36). Conquistou prêmio aquisição
nos dois certames. Expôs na I e II Bienal de SP e no III Salão
Nacional de Arte Moderna. Era membro eminente da Sociedade Paulista de Arte
Moderna criada por Mario de Andrade e Lasar Segal. Faleceu em São Paulo,
1968.
Gobbis era amigo de Portinari e Massena. Quando em 1951, Massena foi convidado
por seu ex-aluno (então governador Jones dos Santos Neves) para criar
a Escola de Belas Artes, convidou Gobbis para ser professor. Ao contrário
do conterrâneo Carlo Crepaz, também convidado (que aqui ficou
até a aposentadoria) ele achou o ambiente muito acanhado para sua inveterada
boemia e logo retornou para São Paulo. Na Escola de Belas Artes deixou
um retrato da sua mãe, óleo s/tela, e no Palácio Anchieta,
uma natureza Morta, figurando um búzio no primeiro plano.
Com Seliégio Ramalho (então diretor) localizamos (1980) o retrato
da mãe do Gobbis num depósito da secretaria do Centro de Artes
da Ufes, dentro de um armário de aço, amontoado com vários
objetos e em péssimas condições. A última vez que
o vi (1987) estava recuperado e pendurado em parede da diretoria.
A Ufes lançou recentemente um catálogo, 382 páginas e
mais de mil fotografias, do acervo do Centro de Artes. Abrange da tela do Massena
(a mais antiga) as atuais aquisições. Todas obtidas por ingênuas
doações (veja Art. 215, Constituição Federal) ou
confisco, após exposição em suas dependências, mantidas
com recursos públicos!
A edição do catálogo é luxuosa. Entretanto, notamos
alguns erros e omissões intrigantes: não encontrei uma tela minha
confiscada em 1987; nem a do Gobbis, pertencente ao acervo desde 1951. Também
não consta da relação os bustos de Massena e do Governador
Lindenberg, obras do Crepaz modeladas em argila, mas que ainda em gesso esperam
há décadas, pela fundição.
Segundo Massena, esse retrato apresentado por Gobbis quando chegou ao ES, foi
na verdade pintado por Portinari. Durante o desenvolvimento do “Projeto
Portinari”, procurei, através do Conselho Estadual de Cultura,
confirmar oficialmente a autoria. Deixei o Conselho em 1984, e não havia
conclusão dos pesquisadores. Alegavam falta de verba. Essa tela, independente
da autoria, é obra de valor (Gobbis figura nas coleções
do MNBA-Rio e Pinacoteca-SP). Para capixabas e paulistas, seu resgate também é de
interesse histórico.
Quanto à sua segunda tela, “Natureza Morta, com Búzio”,
vista por mim pela última vez há 15 anos, na Residência
Oficial do Palácio Anchieta, possuo foto dela. Nota-se o péssimo
estado de conservação: áreas retocadas, perda de matéria
pictórica, craquelê generalizado, verniz escurecido e moldura
danificada.
Quando o Palácio do Governo for mais bem localizado, e o Palácio
Anchieta puder finalmente abrigar o nosso primeiro Museu de Artes, os Gobbis
resgatados figurarão em sua coleção, para apreciação
e vigilância pública. Este pedido de resgate, então, fará sentido.
Kleber Galveas – pintor. Tel. 27 3244 7115 www.galveas.com 06/007