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RENOVAR É PRECISO

 

Desde o faraó Akhenaton (1370 a.C.), esposo de Nefertite, primeiro soberano que promoveu uma religião monoteísta e universal e cuja passagem pela terra os sacerdotes egípcios tentaram apagar destruindo seus monumentos e eliminando referências, verificamos que todo renovador corre risco, ainda que esteja em posição elevada.

           Zaratustra ou Zoroastro, século VII a. C., pregava o monoteísmo. Havia o “agravante” de ele ser contra o sacrifício de animais no Templo, em homenagem a diferentes divindades. Aos 76 anos foi morto a pauladas pelos sacerdotes.

Em Belo Horizonte, 1937, o jornal Estado de Minas, em texto sobre a exposição de Homero Massena que acontecia na Biblioteca Pública, se referiu assim ao grupo de artistas do qual ele fazia parte: “... parece que o povo passou a acreditar nas intenções desses renovadores, sem dúvida muito mais enérgicas, e mais louváveis, do que as daqueles conservadores de nulidades e eternos cultores de elogios mútuos”. Causou um reboliço. 

O povo e a elite prestigiaram a abertura da sua exposição na Biblioteca de BH, como mostram alguns recortes de jornais da época. O governador Milton Campos, o secretário de cultura Abgar Renaut, o prefeito Negrão de Lima e o arcebispo local adquiriram pinturas. Mas havia o meio de campo formado por “artistas” funcionários públicos (estabilizados, arrogantes e ciumentos), jornalistas tendenciosos, e o mercado de arte administrado por decoradores, galeristas e leiloeiros estabelecidos. O clima ficou desagradável para ele. Foram topadas desanimadoras, para quem, com modéstia, não se julgava genial, mas um simples pintor antropofágico, que se esforçava em aclimatar ao nosso ambiente o que havia devorado em arte na Europa..

Seu espírito renovador, que o movia para além da indiferença, o fazia chocar-se com muretas alicerçadas no conservadorismo e na mesquinharia. Estava sempre de mudança e, assim, morou em todas as capitais do leste do Brasil, do Recife a Porto Alegre. No interior morou em: Barbacena, Juiz de Fora, Uberaba, Uberlândia, Belo Horizonte e Campos. No exterior, em Paris, e circulou pela Alemanha, Inglaterra e Portugal. Por fim, atendendo ao convite do governador, veio ajudar a preparar a festa do Quarto Centenário da Fundação de Vitória (1951) e fundar a Escola de Belas Artes, encampada pela Ufes. Viveu seus últimos 23 anos na casa da Prainha, Vila Velha. Hoje, Museu Atelier Homero Massena (1885  - 1974)

De todos os ministros escolhidos pelo novo presidente (Lula - 2003), que nos tem proporcionado vivas esperanças, um erro que se mostra absoluto é na cultura: ao cooptar o grande artista Gilberto Gil para o ministério. Fernanda Montenegro recusou o convite de FHC.

O Artista é um pensador, ser eminentemente político que tem o seu espaço próprio, assim como o religioso e o esportista. Deve atuar em seus ateliês e palcos diversos, onde é insubstituível. No momento em que se liga a uma determinada ideologia, perde liberdade, trânsito e a força estética natural ou ética, da sua opinião independente, livre para apoiar e criticar a sociedade.

Quando o querido artista Gilberto Gil aceitou ser funcionário público, ainda que no cargo de Ministro, fiquei triste, e veio à minha cabeça uma frase que li no interessantíssimo livro Il Gattopardo (O Leopardo) de Tomasi di Lampedusa. Aristocratas italianos, na época de Garibaldi (unificação da Itália, séc. XIX), diziam: “É preciso mudar para continuar o mesmo”. A cultura vive mudando carece renovação.  Gil promoverá renovação? Ou vamos continuar ouvindo Belchior/Elis Regina: “A vida continua como a dos nossos pais”.

Kleber Galvêas, pintor. Tel. (27) 3244 7115 ateliegalveas@gmail.com Janeiro\2003

 

Observação atual (janeiro de 2019): Continuo ouvindo Elis... Renovar a cultura é devolver o fazer cultural ao povo. Esse “fazer cultural” foi estatizado na era Vargas/Capanema (Ministério. Secretarias) e privatizado na era Sarney (Leis de Incentivo a Cultura). Renovar é Inverter a ordem vigente: o cidadão faz parceria com governo e não o governo com o povo. A iniciativa tem que ser popular. A parceria será estabelecida com o governo se a proposta apresentada estiver dentro do seu plano, aprovado nas urnas em eleições livres, e respeitadas as suas prioridades.

Por definição cultura é a expressão de um povo. O autoritarismo cultural do governo é ideologia, no desenho atual brasileiro, é ideologia de inspiração fascista. Carece renovação.


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