MUSEUS SÃO NECESSÁRIOS
Dois
capixabas estiveram, pela primeira vez, na Grécia. Um terceiro, experiente,
fez para eles um roteiro dos museus. Quando os turistas retornaram, o
orientador quis saber a impressão deles. Ficou surpreso quando soube que
optaram por fazer apenas um tour pelas praias. Esqueceram-se dos museus. Da
Grécia!
Um
grupo de capixabas, todos com educação superior, esteve em Paris. Na cidade
alugaram um táxi e preferiram tirar fotografias, posando na porta de
restaurantes famosos, a visitar o Louvre e galerias de arte. De Paris!
Educação
Artística é matéria curricular de todas as séries das nossas escolas, mas,
infelizmente, ainda não contamos com o apoio de um museu de artes plásticas
no Espírito Santo. O professor, ao falar sobre o impressionismo, mostra
filmes ou pede a seus alunos que abram o livro em determinada página, para
terem um exemplo. A apreciação de uma obra “ao vivo” é difícil aqui. Essa
falta de intimidade do capixaba com a matéria da pintura, só enxergando
através de reproduções, gera preconceito, o que dificulta a apreciação da
obra original nos grandes museus, tornando-os desinteressantes para alguns. A
educação estética deficiente, que em geral recebemos, não nos habilita a separar
gatos de lebres, aqui e no exterior.
A consequência
desse nosso estranhamento da matéria pictórica propiciou atitudes curiosas: extrema
do pintor alemão Wolff, que incinerou suas telas em frente ao Estúdio
Quintas, em Vitória, após o fracasso da sua exposição; e de frustração em
herdeiros de uma família de descendentes italianos, que disputavam uma
gravura seriada, de pouco valor, patinada pela fumaça do fogão à lenha da
“nona”, pensando ser antiga e valiosa pintura original.
Em
artigo publicado em A Tribuna, 1939, o crítico de arte Lindolpho Barbosa Lima
lamentou que em coletiva dos artistas da terra, entre os quais Levino Fanzeres,
o número de visitantes da mostra foi igual ao de expositores.
Homero
Massena, pintor de excelente formação, com grande capacidade de produção, foi
socorrido pelo Governo Federal com uma pensão de três salários mínimos, aos
86 anos. Embora produzindo com qualidade (pintou o teto do Teatro Carlos
Gomes, aos 84 anos), vivia apertado, querendo trabalhar.
A
primeira foto que aparece no catálogo do Museu Homero Massena (1986), tirada
por Paulo Bonino, mostra Massena pintando. No verso da tela, que está no
cavalete, podemos ler: “Consul, o refrigera...”. Quando adolescente, ao
voltar da escola, passava em frente das lojas e levava para o mestre
embalagens descartadas feitas de compensado, que ele convertia em telas e
pintava feliz.
A
dificuldade financeira observada na casa do artista retardou a opção pela
minha vocação: a pintura. Fui inseguro até identificar a causa dessa
situação: o problema não era o artista, mas o público desinformado – “o onde
e o quando mostrar”.
Precisamos
“fazer a hora”; interessar as pessoas pela arte; aprimorar e universalizar a
Educação Artística, para que as obras sejam absorvidas, pois nenhuma produção
se sustenta se o estoque é grande e não há demanda. Pensando assim, em 1974,
passei a escrever sobre arte e, em 1979, abri o ateliê, para exibir minhas
pinturas, as de colegas e o resultado de pesquisas.
Quando
o ateliê funcionava na Prainha passava muita gente na porta. Ouvi muito:
“Durante anos passei por aqui, sem coragem de entrar. Não imaginava que fosse
tão bonito e agradável." Assim, procuro estimular a visita de turmas do
primário à universidade, quebrando a resistência da primeira vez.
Em
galeria as exposições são transitórias e geralmente se restringem à obra de
determinados artistas. Em um museu público, entramos mais facilmente, e o
acervo é sempre amplo, variado e permanente.
Precisamos
de um Museu de Arte no Espírito Santo.
Kleber
Galvêas, pintor. www.galveas.com ateliegalveas@gmail.com janeiro/2015
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