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MÍDIA NECESSÁRIA É fundamental a
liberdade de expressão do indivíduo e da mídia para o desenvolvimento harmônico
da toda sociedade. Quanto mais variada e diversa for a fonte da informação,
melhor. A diversidade enriquece em ângulos ou perspectivas o nosso ponto de
vista. Na “Era da Incerteza”, a comunicação livre é indispensável para
formarmos as nossas opiniões e interagirmos com indivíduos e grupos sociais. Colaborar
“religiosamente” para que a mídia seja livre será interessante. Se a religião
cuida da alma, do espírito; a mídia cuida de nos manter informados para a
formação de nossas opiniões e para cuidarmos da vida do aqui e agora. Não
existe vida em corpo sem alma, nem em alma sem corpo. A separação é a morte do
ser humano. Os dois aspectos de nossas vidas devem merecer igual atenção
generosa. O alemão desconta “religiosamente”, na fonte, o dízimo em favor da
religião declarada. Isso talvez nos inspire para resolvermos a questão da
necessária independência financeira da mídia: local, nacional, mundial. Assim,
a mídia livre de caprichos dos patrocinadores poderá assumir e exercitar a
ética em priorizar a cultura. A intermediação de agências e assessorias de
comunicação na relação do artista com a mídia alivia-a financeiramente, mas onera
o autor, cuja obra e ação criativa deveriam ser entendidas como insumo para o
bom jornalismo. Promover a cultura não
é obrigação da mídia, mas dever do Estado, Art.215 e 216 da Constituição. Da
mídia é obrigação moral comunicar notícias de interesse social ou de utilidade
pública. Costumo dizer que a
nossa mídia usa óculos obsoletos, que precisam ser trocados por multifocais
modernos, para que enxergue bem não só o que acontece longe, mas também o que
acontece perto. Nos anos 1960, em visita oficial ao Brasil, o príncipe Charles
deixou escapar uma observação parecida com essa sobre a imprensa nacional.
A prisão mais
eficiente é a que construímos para nós mesmos, capaz de deter até o espírito. A
prisão mais eficiente do ponto de vista da vida social, da comunicação, da
arte, é o ostracismo, a indiferença, o sepultamento em vida, desprezo
absoluto. Nos últimos 30 anos,
observamos com aflição o encolhimento e quase extinção dos espaços dedicados à
cultura em nossos veículos de comunicação. O governo assistiu impávido a esse
extermínio cultural abrangendo todas as formas de expressão artística.
Desapareceram os críticos de artes plásticas, de cinema, de literatura, de
música... Os suplementos literários foram extintos, assim como os infantis, que
despertavam crianças para a literatura e para o jornalismo, para o desenho e
para a poesia. Minha primeira publicação em jornal foi em A
Gazetinha (1966), comandada por Glecy Coutinho. Os religiosos,
cuidando da alma, passaram a sacolinha e hoje têm os seus próprios veículos e
editoras. O esporte e a polícia, que produzem adrenalina, combustível pessoal
contemporâneo, viram seus espaços aumentarem generosamente, escancarando a
hipocrisia da nossa sociedade que se diz interessada na paz e no amor.
Ninguém se incomoda em pagar por um jornal com 10 páginas dedicadas ao esporte
e à polícia, e nenhuma às artes; em pagar para ver duas pessoas trocarem socos
e pontapés em um octógono. Caso os “guerreiros” resolvessem trocar carinhos,
logo chamariam a polícia para prendê-los, por atentarem contra os bons
costumes. Uma forma de desprezar
o homem é a banalização, a diluição cultural, preconizada por Andy Warhol, ao
constatar que logo todos teriam 15 segundos de fama. Ele provoca-nos com suas
imagens repetidas ou multiplicadas de gente, de refrigerantes, de sabão brilho,
de latas de sopas em séries... Segundo Nietzsche, em
“O Homem Consigo Mesmo”, Editora Escala, 2007, pág. 267: “Uma só coisa é
necessária ter: um espírito leve por natureza ou um espírito tornado leve pela
arte e pela ciência”. Tanto a arte quanto a ciência só se realizam se
alcançarem o público, e a “ponte” é a mídia livre. Kleber Galvêas, pintor. Tel. (27) 3244 7115 ateliegalveas@gmail.com www.galveas.com
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