Aa saga da família Warchalowski. Artista que vieram para Vila Velha em 1956
Lao, Wanda e Beatriz Warchalowski: família de artistas
Em 02 de junho de 2009, em Varsóvia, Polônia, a Biblioteka Iberyjska lançou o livro: “I polecial w swiat daleki ... wspomnienia z Brazylii, Polski i Peru”, que conta a saga da família Warchalowski. O livro, escrito em polonês, contém várias ilustrações em suas 251 páginas. O lançamento aconteceu durante a abertura da exposição das obras plásticas de Stanislaw e Wanda Warchalowski no Museu da História do Movimento Popular Polonês.
Tenho o livro, presente de Beatriz, filha desse casal de artistas. Ela foi convidada para o lançamento e me trouxe um volume. Graduada em Artes pela Escola Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, Beatriz cuida de maneira exemplar da memória e acervo deixado pelos pais, promovendo generosamente a difusão desse legado.
Vendo as ilustrações, lembro das histórias contadas por Lao sobre sua vida sem fronteiras, rica em aventuras nos diversos lugares em que atuou. Será muito interessante a sua tradução para o português, pois noventa por cento dessa curiosa história se passam no Brasil, e boa parte, no Espírito Santo, onde fixou residência definitiva.
Desde criança, via Dona Wanda passar a caminho das compras, pela Av. Champagnat, em frente ao Colégio Marista. Pelo seu porte elegante, por suas roupas e por seu coque na nuca, pensava tratar-se de uma senhora espanhola muito delicada e recatada. Só conversei com ela e o Lao muito tempo depois. Primeiro vi-o na TV Gazeta dando uma simpática entrevista.
Quando visitei o ateliê da família na Praia da Costa convidei a todos eles para fazerem exposições no meu ateliê: Lao, guache; Wanda, esculturas; e Beatriz, desenhos. Foi amor à primeira vista. A convivência a partir de então foi muito rica e interessante para mim que recuperei um bom e experiente conselheiro (que havia perdido com a morte do Massena).
Lao, Wanda e Beatriz fizeram exposições no meu ateliê da Prainha. Mostraram ali seus trabalhos mais de uma vez, com grande sucesso de crítica e público. Beatriz, em exposição póstuma que organizei para homenagear seu pai, apresentou um retrato dele feito com grafite. Como voluntária, participou da escola de arte que montamos no ateliê e, nas tardes de sábado dava aulas para jovens interessados em pintura.
Ainda não conheci ninguém que dominasse a técnica do guache como Lao Warchalowski; ninguém que fizesse esculturas de pano com estrutura de arame, com tanta graciosidade, movimento, expressiva vivacidade e riqueza de detalhes, como as produzidas por Wanda Warchalowski.
Após a exposição em Varsóvia, parte das obras do casal passou a integrar o acervo do museu polonês. A maior parte continua no acervo particular de Beatriz. São essas peças que pretendemos mostrar em 2013, no ateliê da Barra do Jucu.
Como chefe de topografia, Lao corrigiu o caminho por onde os trens da Vale trariam o minério de ferro de Minas para o Espírito Santo. Nas folgas do serviço, desenhou “ao vivo” cenas pitorescas dos trabalhadores colocando trilhos (desenhos expostos permanentemente no Museu Ferroviário da Vale). Por este mesmo caminho veio com toda a família de Governador Valadares para Vila Velha, em 1956. Primeiro moraram na Sete de Setembro, depois formaram entre os pioneiros na ocupação da Praia da Costa, onde o casal viveu os últimos anos desenvolvendo atividades artísticas.
Em 2006 visitei D. Wanda com 102 anos. Sentada próxima à janela, usando agulhas grossas de tricô, fazia mantas para serem distribuídas pelas Irmãs Vicentinas às mães carentes.
Nascido na Polônia, Lao chegou com oito meses ao Paraná, onde Kazimierz, seu pai, um dos líderes da colônia polonesa, publicou jornal em polonês. Com 19 anos, foi estudar engenharia na Polônia, onde também lutou boxe. Voltando ao Brasil, fez-se garimpeiro no sertão de Minas. Viveu dez anos no Peru, onde se casou, após receber, por navio vindo da Polônia, a jovem e bela noiva Wanda. Logo mudaram para o Brasil e foram morar no Rio de Janeiro, onde Lao montou estúdio pioneiro de publicidade. Admitido na Vale, foi com a esposa para Governador Valadares e, em seguida, para Vila Velha. Por ficarem mais tempo de suas vidas morando na Capital Histórica do Espírito Santo, são capixabas. Capixabas que os poloneses conheceram e admiraram através da arte e da bela história de vida: mas que os capixabas e brasileiros ainda precisam conhecer.
Kleber Galvêas, pintor. Tel. (27) 3244 7115 ateliegalveas@gmail.com
WWW.galveas.com
PS. O livro em polonês aparece integralmente, inclusive com ilustrações, em:
books.google.com.br/books?isbn=8360093830