Pintura Kleber Galvêas, 2010. Acervo: Ângela
Dantas. |
FESTA DA PENHA –
440 anos A Gazeta, 9/4/2010, pág.06
A Festa da Penha não é recordista de público
no Brasil, mas é a festa religiosa mais tradicional das Américas.
Acontece há 440 anos, desde 1570. Falhou apenas dois anos (1938/39),
proibida na fase mais negra da ditadura de Getúlio Vargas.
Quando Frei Pedro Palácios chegou ao Espírito Santo (1558),
conventos gozavam de enorme prestígio. Dois anos antes Carlos
V, o maior líder político do mundo naquele tempo, Imperador
do Sacro Império Romano, havia abdicado em favor de seu irmão
e filhos. Viúvo retirou-se da vida pública, ingressando
num convento.
Para celebrar a primeira festa, Pedro Palácios mandou buscar
em Portugal a imagem de Nossa Senhora da Penha, ainda venerada no altar-mor.
Em uma caixa chegaram a cabeça, as mãos e o Menino Jesus.
O frei improvisou o corpo com madeira da mata, vestido e manto
Em 1653, o Menino foi levado por saqueadores holandeses. Só voltou
ao colo da mãe após entendimento com Pernambuco, local
onde foi abandonado pelos sequestradores.
As principais obras, conferindo à igreja imponência de
castelo, foram realizadas do séc. XVII ao XIX, a expensas do
fluminense Salvador Correa de Sá e Benevides. Em 1652, ele fez
doação de “ordinária anual de trinta cabeças
de gado”, mantida por seus descendentes até 1846. Em agradecimento,
o Prelado-Mor da Bahia concedeu-lhe e aos descendentes o título
de “Padroeiros Venturosos do Convento”. Durante quase 200
anos os festejos da Penha só começavam com a chegada da
Romaria de Campos, vinda por mar.
O Convento alcançou o aspecto atual no princípio do séc.
XX, quando ganhou (após tombamento pelo IPHAN) a grande chaminé
da fachada norte.
O altar-mor, em mármore de Carrara, foi benefício do paulista
Cícero Bastos ao genro, governador Jerônimo Monteiro, autor
do “Veto da Penha” (vetou, em decorrência da Constituição
Republicana que separou a igreja do Estado, uma ajuda financeira ao
Convento, aprovada na Assembleia Legislativa e apoiada pelo povo). A
decisão foi dificílima, deu falatório. O Bispo
do Espírito Santo era seu irmão e conselheiro.
Na preparação do altar para a inauguração
(1910), a família do governador tomou para si o encargo. Quando
foram arrumar a imagem de Nossa Senhora da Penha, viram que ela estava
careca. Havia sobre sua cabeça apenas lenço e coroa. Uma
cabeleira foi providenciada: cortaram as tranças de uma das sobrinhas
do governador. A menina chorou, mas foi consolada pela babá que
garantiu: “Não chore minha fia. Você deu o cabelo,
ela lhe dará boa cabeça”.
A menina era Maria Stella de Novaes, nossa cientista maior, historiadora,
escritora, educadora, pintora e iniciadora de Augusto Ruschi nos mistérios
das orquídeas, o que o levou aos (polinizadores) beija-flores
e daí à ecologia.
São diferentes os motivos que conduzem ao Convento da Penha.
Prevalece o espírito religioso buscando um lugar para orar. Alguns
sobem o morro para apreciar belas paisagens; outros buscam referências
geográficas para facilitar seus movimentos nas cidades próximas.
Estudiosos e curiosos apreciam a arquitetura, esculturas e pinturas.
Entre as pinturas destaca-se “N. S. das Alegrias”, tela
que há mais tempo está exposta ao público nas Américas.
Provavelmente obra do Mestre de Santa Auta (Portugal), trazida por Pedro
Palácios em 1558.
O Convento e a panela de barro são símbolos da nossa cultura.
Com “frigideira”, peixe e temperos, a “muqueca poca”
em qualquer lugar. O Convento, nós temos que ir lá. Em
dia de festa? Melhor ainda.
Kleber Galveas, pintor Tel. (27) 3244 7115 www.galveas.com - atelie@galveas.com
- abril/2010
PS. Se julgar interessante favor repassar para amigos. Grato, Kleber
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