Pinturas |
CONVOCAÇÃO: A HORA É
AGORA. No “Sermão de Quarta-feira de Cinza” - 1676 , o Padre Antônio
Vieira trata da ressurreição de Lázaro. Vieira crê nos santos e na vida eterna.
Veja como ele, imbuído de inabalável fé religiosa, narra a ressurreição de
Lázaro, em estilo barroco. “Jesus não chorou Lázaro morto. Chora Cristo a Lázaro quando
o há de ressuscitar... A todos esteve bem a ressurreição e só ao mesmo Lázaro
esteve mal. Esteve bem a Deus (se assim é lícito falar) porque foi para
sua glória: esteve bem aos discípulos, porque os confirmou na fé: esteve bem
aos de Jerusalém, porque muitos se converteram: esteve bem às irmãs, porque
recobraram o amparo e arrimo de sua casa: esteve bem ao mesmo Cristo, porque
então manifestou mais claramente os poderes da sua divindade: e só a Lázaro
esteve mal, porque a ressurreição o retirou do descanso para o trabalho, do
esquecimento para a memória, da quietação para os cuidados, da paz para a
guerra, do porto para a tempestade, do sagrado da inveja para a campanha do
ódio, da clausura do silêncio para a soltura das línguas, do estado de
invisibilidade para o de ver e ser visto, de entre os ossos dos pais e avós,
para entre os dentes dos êmulos e inimigos: enfim, da liberdade em que o tinha
posto a morte, para o cativeiro e cativeiros da vida”. Em 1974, o pintor impressionista Homero Massena assim se
expressou: “A vida é um embuste, nunca leve nada a sério, não existe nada sério,
não. Quando pintei “Crepúsculo”, para o poeta Belmiro Braga, os bois ficaram
soltos na curva da estrada. ” Enquanto o religioso do século XVII aponta as vantagens em
morrer, o artista no século XX tenta nos mostrar que a estrada da vida não é
uma reta, que temos que tomar decisões em todas as curvas, mas seguir em frente,
pois há beleza mesmo no crepúsculo. O artista expressou o sentimento que
prevalece em nosso tempo: “Vivemos a era da incerteza. ” (J. K. Galbraith). |
Hoje pretendemos a imortalidade individual e da nossa espécie,
inclusive queimando dólares e cérebros, pois levamos a sério a quimera de
podermos habitar outros planetas. Planos de saúde nos empobrecem, farmácias se
multiplicam, enquanto buscamos desesperadamente, sem prazer, sem alegria, sem
felicidade, nos manter vivos. A história da Terra transcorre, em período
interglacial, sem fenômenos que coloquem em risco nossa existência. Inventamos
máquinas que nos facilitam, obtemos o pão sem ter suor no rosto, usamos
materiais e objetos que desenvolvemos, podemos nos vestir e nos abrigar com
conforto em diferentes ambientes. Entretanto criamos mil dificuldades para
usufruirmos uma vida social amistosa e particularmente feliz. O desprezo pela vida, expresso em Vieira, tem contraponto na incerteza
apontada por Massena. O artista, encantado com a vida, apreciava a natureza e cultivava
o belo em suas pinturas, estimulando a nossa persistência. O desenvolvimento técnico alcançou o seu esplendor na era da
comunicação, mas carecemos de estética para termos o bem viver. Da arte como veículo
e produto de uma relação prazerosa com o ambiente e entre humanos: Aqui, agora!
Chegou a hora de o artista atual mostrar o seu valor. Kleber Galvêas, pintor. Tel. (27) 3244 7115 www.galveas.com |