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CARNAVAL
DIVINO CAPRICHADO Na minha
infância, de 1950 a 1960, pulei carnaval em Dores do Rio Preto, São Mateus,
Nova Almeida, Rio de Janeiro, Guarapari, Guaçuí, Vitória e Vila Velha. Meus
pais (médico e professora), recatados durante o ano, no carnaval demonstravam
uma alegria que transbordava. Adulto
desfilei em Escola de Samba, fui jurado e sempre gostei muito dessa festa, com
ou sem fantasia. Vivemos durante o carnaval dias mágicos de comunhão,
tolerância, criatividade e espontaneidade. Talvez para a maioria dos
brasileiros seja o lapso mais cristão do ano. Evento
cultural fantástico, o carnaval revela desenvolvimento humano extraordinário. A
confraternização que propicia entre cidadãos de origens diversas, inclusive
estrangeiros, tem sido objeto de estudo e de admiração de muitos países que
vivem atormentados com graves conflitos internos que se aprofundam com o tempo,
afastando as pessoas, criando guetos, reservas e levantando muros. Grandes
realizações humanas, feitos extraordinários onde o povo é objeto e não sujeito,
parecem menores, quando comparados ao carnaval. O homem em liberdade é
grandioso. A multidão brincando é formidável, arrebatadora, divina. É
claro que, durante o carnaval, aqui e ali, pipocam a falta de bom senso, a
violência, os acidentes, os fatos desagradáveis e tristes. O povo, e a mídia
que reflete o seu caráter e vontade, tendem sempre a supervalorizar o drama e a
criticar a comédia. Assim, o carnaval, essa nossa divina comédia, tende a
parecer profano e inadequado. ILUSTRAÇÃO:
"Carnaval tá Chegando", Augusto e Kleber - 2019
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