ASSIM ENSINOU ZARATUSTRA

No séc.VII a.C. viveu, onde fica Irã/Afeganistão, o profeta Zoroastro ou Zaratustra. Por inspiração divina compôs o Avesta, conjunto dos livros sagrados persas. Ele propunha um Deus único, a conquista do céu por boas ações e não com o sacrifício de animais no templo. Contrariou os sacerdotes que o mataram a pauladas, aos 77 anos. Coerente, não permitiu o culto à sua personalidade, nem buscou a unanimidade.
Humanista pioneiro ensinou que “a oportunidade de praticar o mal aparece cem vezes por dia e a de praticar o bem uma vez por ano; que é melhor correr o risco de libertar um culpado que condenar um inocente”.
Conhecendo a natureza humana, atento ao crescimento da burocracia que afasta o governo do povo, observou que “as boas ações dos cidadãos costumam ficar na ante-sala dos governantes, enquanto as suspeitas entram; a primeira suspeita é repelida, a segunda roça a pele, a terceira fere, a quarta mata”.
Desejoso em fazer brilhar as luzes da razão, reformou costumes milenares consagrados entre árabes (holocausto de viúvas), mostrando que a razão era mais antiga do que eles.
Zoroastro condenava a vaidade dos governantes, alertando que ela é como “uma bexiga cheia de ar, de onde saem ventos tempestuosos quando alfinetada”. Mil anos antes de Montaigne, sustentou que o bom senso, a tolerância e o diálogo são indispensáveis ao governo dos povos: “Quando comer alimente os cães, ainda que o mordam”.
Após Zoroastro, Confúcio, Buda, filósofos gregos e romanos, Jesus, Maomé, filósofos renascentistas, iluministas, modernos e contemporâneos, confirmaram seus ensinamentos. Nietzsche, com seu livro: “Assim falou Zaratustra” (1883), popularizou Zoroastro em nosso tempo.
Embora todos esses sábios, ora por inspiração divina, ora observando a natureza, buscando referências históricas, ou deduzindo com o exercício da razão, chegassem a conclusões semelhantes quanto à importância da dialética (tese - antítese - síntese), ainda hoje elegemos governantes primários que buscam, a qualquer preço, a unanimidade. Soberbos, dispensam contrapontos criativos do trabalho em grupo heterogêneo, julgando ser favorável (aos seus propósitos) controlar a informação e submeter os demais poderes da república. Esse autoritarismo os leva à ruína.
Egoístas e vaidosos, sustentados nas alturas por bajuladores, só enxergam o poder e, quando o conquistam, querem conservá-lo a qualquer custo. Perdem o senso da realidade democrática, da riqueza criativa na discussão e a força de uma nova síntese.
No primeiro vacilo os mais espertos lhes tomam o poder e os condenam ao ostracismo. Não raro protagonizam tragédias.
Governantes egocêntricos lembram os castores do Oregon (USA) fazendo seus ninhos. Esses, algumas vezes, represavam a água do riacho formando um lago, prejudicando o abastecimento de quem estava à jusante e colocando em risco casas e plantações. A barreira feita de troncos e ramos, fixados com a mesma habilidade dos pássaros que constroem ninhos, poderia se romper. Assim, no velho oeste americano, quando iniciadas em área de risco iminente para os colonos, eram logo destruídas.
Erros administrativos e desvios éticos, produzidos com mais frequência por governos sem oposição, representam risco de revolução. Estes, assim como os troncos da represa do castor, não os podemos deixar acumular. Quase sempre basta deslocar uma peça para todo o sistema ruir, destruindo o que encontra pela frente.
Nosso descuido é perigoso. Nossa arma é o voto.
Kleber Galvêas, pintor. Tel. 3244 7115. Visite nosso site: www.galveas.com 01/2010
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