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A Gazeta, Pensar e o Cais das Artes

O Cais das Artes, apelidado de “masmorrão” por sua aparência de grande prisão e por sua interferência na paisagem litorânea entre Vila Velha e Vitória, parece que está afundando. Segundo o jornal A Gazeta (20-10-2012): o “gasto para manter obra parada chega a R$ 629 mil com manutenção, e R$ 30,3 mil por mês com vigilância”.
Esse é o maior monumento ao autoritarismo cultural edificado em Vitória, após o advento das leis fascistas de apoio à cultura que foram gestadas no governo Sarney (1986), “aperfeiçoadas” nos governos seguintes e copiadas por Estados e prefeituras. A noção do que é cultura para nossos governantes está explicitado no título de artigo do Secretário Estadual de Cultura, publicado  no caderno Pensar, de A Gazeta de 20-10-2012: “A Cultura como Política de Estado”. Se é política de Estado, secretário Maurício, é ideologia, jamais cultura.
O caderno Pensar, citado, traz na capa a foto do arquiteto e, com grande destaque em suas páginas centrais, matéria de um curador que nos apresenta esse arquiteto, autor do projeto do famigerado Cais das Artes. Projeto de custo e dimensões exorbitantes, que foi escolhido sem concurso, e está sendo pago com recursos públicos.
Na página 4, da mesma edição de A Gazeta podemos ler: Algumas obras públicas e seus aditivos - Cais das Artes – Custos: “O custo estimado no início era de R$ 115,5 milhões. Depois, chegou a R$ 127 milhões porque foi necessário utilizar uma tecnologia de construção à beira-mar”. Portanto o valor do projeto recebeu um aditivo de R$ 11,5 milhões em função da localização. O que nos parece muito estranho, pois na apresentação do arquiteto responsável pelo projeto, feita pelo curador nas páginas 6 e 7 do caderno PensarA Gazeta, citado acima, ele dá voz ao arquiteto:
“Nasci no porto de Vitória... meu pai engenheiro de portos... por aí fui educado... junto às obras pesadas da engenharia no mar."
“Quando o homem olha a natureza já a vê como parte de seu projeto, das transformações que fará."
Segundo o curador, ainda no mesmo caderno Pensar: “Paulo (o arquiteto) insiste na ideia de que é impossível imaginar estruturações formais se não se souber de antemão como realizá-las, porque só se “raciocina com a engenhosidade possível”.
Como explicar o aditivo milionário, em função da localização da obra do Cais das Artes, se essa localização era conhecida, e o arquiteto se gaba de intimidade com o mar?  

PS. É incorrigível o provincianismo da nossa mídia? Sempre abre espaço amplo e nobre para alienígenas mirabolantes (premiados longe, reconhecidos internacionalmente, mas que não participaram de concursos públicos aqui) e desprezam pensadores e artistas locais.
Kleber Galvêas, pintor. Tel. 3244 7115 www.galveas.com ateliegalveas@gmail.com 10/12

 

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