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VIZINHOS NA VANGUARDA (publicado em A Gazeta, 08/02/2014)

Descriminando-se a maconha, o tráfico ficará descapitalizado
em grana e homens. O capital que foi rapidamente acumulado,
dado à alta lucratividade do fruto proibido, gerenciado com
“reserva de mercado”, deixará de fluir para traficantes; a
aquisição da maconha feita em contato direto com traficantes,
facilitando a cooptação de usuários para as organizações
criminosas, onde peões têm vida curta, deixará de existir.

Sergio Buarque de Holanda (pai do Chico), em seu livro “Raízes
do Brasil” mostra que o desenvolvimento de instrumentos de
cultura na América Espanhola foi muito anterior ao verificado
no Brasil. Quando Vasco Coutinho chegou ao Espírito Santo,
1535, já se imprimiam livros na Cidade do México.

Até 1822 (nossa independência), formamos 720 universitários,
lá em Coimbra. No mesmo período, a América Espanhola
formou cerca de 150 mil, em mais de uma dezena de
universidades próprias. Quando o primeiro livro foi impresso
no Brasil, graças à vinda de D. João VI, já haviam saído de várias
gráficas, no México, Venezuela e Peru, mais de 15 mil títulos.

A Gazeta (02/02/2014) informa que em 2011 foram
apreendidas 174 toneladas de maconha no Brasil. É parte
insignificante do volume comercializado, pois não há variação
de preço quando as apreensões acontecem.

A política equivocada do governo mantém “legalmente”
uma reserva de mercado para traficantes. Policiais leais são
manipulados através do “disque denúncia” por traficantes,
interessados em eliminar concorrentes, ocupar áreas, ou
regular os outros negócios paralelos em que já operam:
segurança, transporte, jogos de apostas, gás, pirataria de filmes
e músicas, contrabando,... Policiais, agentes e funcionários
públicos corruptos recebem propina.

Não existe registro de morte por overdose de maconha.
Entretanto somos campeões mundiais disparados, em número
de mortes violentas na disputa e controle de “bocas de fumo”.
A política de combate à maconha no Brasil tem enriquecido
rapidamente os barões do tráfico. O cultivo rústico e a
repressão policial propiciam ganho tão extraordinário aos
traficantes que a maconha é “ouro verde”.

Quanto maior for o fluxo de capital para uma organização,
melhor ela ficará estruturada, protegida e apta para
intervenções em diferentes negócios, inclusive na política.
Estados Americanos, países europeus e nossos vizinhos, diante
da realidade dos fatos, têm descriminado a maconha. Nós
precisamos urgentemente agir, para reduzirmos a escandalosa
violência que tem vitimado cerca de 70 mil jovens todos os
anos, e enchido cadeias que aprimoram criminosos. Precisamos
mais uma vez deixar de indiferença para com o próximo, de
conveniência política, de covardia, e trilhar com humildade o
caminho aberto por nossos vizinhos.

“Droga Leve”, publicado em 2000, complementa este artigo.
Pode ser lido no site www.galveas.com

Kleber Galvêas, pintor. Tel. (27) 3244 7115 www.galveas.com
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