VALE UMA HOMENAGEM.
A empresa que mais contribuiu para o crescimento econômico do Espírito
Santo foi a Vale do Rio Doce. O início de suas operações,
no nosso Estado, aliviou um grande problema. Naquela época nossas cidades
inchavam, com o abandono do campo, devido à queda do café (ES,
MG e RJ) e a quebra do cacau (Sul da Bahia).
O complexo siderúrgico e empresas que surgiram em seu entorno, capitanearam
a transição para a atividade industrial no ES, minimizando o
desastre na agricultura. Embora o governador Cristiano Dias Lopes, na época,
afirmasse: “A Vale só deixa para os capixabas o apito do trem”;
em seu governo iniciou-se um crescimento sem paralelo da nossa economia (inexpressiva
e monótona desde o séc. XVI).
Até 1960, Vila Velha possuía apenas torrefação
de café, fábrica de tamancos, marcenaria, fábricas de
prego, biscoito, guaraná, sabonete, bala e chocolate. O comércio
se restringia aos bares e armazéns de secos e molhados. O porto de Paul
e o Pela Macaco eram considerados de Vitória. Não havia nenhum
restaurante, só o hotel Tabajara. Um único salão de beleza
cuidava das unhas e cabelos, das damas. Vila Velha se restringia à Prainha
e Inhoá. Os dois distritos mais populosos eram Argolas e Barra do Jucu.
Nas areias da Praia da Costa víamos mais vacas tomando sol do que banhistas.
Tudo cresceu. Ficamos adultos.
A transformação de Vitória se irradiou, de forma acelerada,
para todo território capixaba. Até então, “lugar
de toda pobreza“.
Durante sua fase estatal, a Vale era muito questionada quanto ao valor da tonelada
de minério exportado. Quando Hilal inaugurou sua galeria na Praia do
Suá, no princípio dos anos 70, Guilherme Minassa apresentou uma
interessantíssima instalação: um serviço de chá em
fina porcelana inglesa, sobre mesa forrada com toalha de linho e tudo abarrotado
de minério de ferro. Hoje, com a Vale privatizada, os valores do minério
sendo reajustados (100% + 15%, com o aval da China) representam uma conquista
significativa da empresa, cobrada na instalação do artista há 35
anos. Guilherme, atualmente, é jornalista em Belo Horizonte.
Bem encaminhado o problema do valor do ferro, resta resolver o da poluição
e os decorrentes do aumento espetacular da população de novos
capixabas. Toda atividade inicial de qualquer empresa traz gente em excesso.
Isso é agravado com a sua expansão, pois consolida a idéia
de saúde e vigor financeiro na área. A demanda por serviços
públicos se multiplica, exigindo enorme esforço de quem a hospeda.
Quando da primeira edição do projeto A VALE, A VACA E A PENA
(1997) realizei, na primeira sala da minha galeria, uma homenagem à Vale.
Exibi desenhos do artista Stanislaw Warchalowiski, funcionário aposentado
da empresa, mostrando operários assentando trilhos, feitos enquanto
ele trabalhava na locação da Estrada de Ferro Vitória à Minas.
Estes desenhos, em bico de pena, logo após esta exposição,
foram doados à Vale, pela família do artista. Integram o acervo
do Museu Ferroviário, onde figuram com destaque, pois são ali
documentos únicos, no gênero artístico.
O jongo, “estimamos nossa empresa/ que abastece o mundo/ resolvendo o
problema/ o amor será profundo”. Continuará sendo cantado: É oportuno.
Da nossa maior empresa, que tanto nos impressiona, esperamos o melhor exemplo.
Homenagem, quando foi instituída na corte francesa, era uma cerimônia
em que o homenageado se comprometia a empenhar a própria vida, na defesa
de quem o distinguia. Quantas homenagens a Vale já recebeu dos capixabas?
Kleber Galvêas – pintor Tel. 3244 7115 atelie@galveas.com www.galveas.com
04/06