Pinturas
|
A Vale contribui significativamente para
o crescimento econômico do Espírito Santo. O início das suas atividades, no
nosso Estado, aliviou um grande problema. Naquela época nossas cidades
inchavam, com o abandono do campo, devido à quebra do café (ES, MG e RJ) e
depois à do cacau (Sul da Bahia). Famílias inteiras se abrigavam debaixo
de pontes e marquises nas cidades, e o apelo de crianças -- “Dona, tem
sobra de comida?” -- era ouvido diariamente no portão das casas da
Prainha. O complexo siderúrgico em Tubarão e as
empresas que surgiram em seu entorno aceleraram a transição para a atividade
industrial no ES, minimizando o desastre na agricultura. Embora o governador Cristiano Dias
Lopes, na época, tenha afirmado que “A Vale só deixa para os capixabas o apito
do trem”, em seu governo iniciou-se um crescimento sem precedente na nossa
economia, inexpressiva e monótona desde o séc. XVI. Até 1955, Vila Velha, com cerca de 30
mil habitantes, possuía apenas torrefação de café, fábrica de tamancos,
biscoito, guaraná, bala e chocolate. O comércio se restringia aos poucos bares,
quitandas e armazéns de secos e molhados. O porto de Paul, de Argolas e o de
Pela Macaco eram considerados de Vitória. Não havia nenhum restaurante, e
apenas o Hotel Tabajara. Um único salão de beleza cuidava das unhas e cabelos
das vilavelhenses. A cidade se restringia à Prainha e Inhoá. Os dois distritos
mais populosos eram Argolas e Barra do Jucu. Na Praia da Costa víamos mais bois
soltos do que banhistas. Tudo cresceu. Ficamos grandes de repente. Durante sua fase estatal, a Vale era
muito questionada quanto ao valor do minério exportado. Quando Hilal inaugurou
sua galeria na Praia do Suá, nos anos 1970, Guilherme Minassa apresentou uma
interessantíssima instalação: um serviço de chá em fina porcelana inglesa,
sobre mesa forrada com bela toalha, e tudo abarrotado de minério de ferro. Com
a Vale privatizada, o preço do minério foi reajustado. O que representa
conquista significativa da empresa, cobrada na instalação do artista há 44
anos. Guilherme é jornalista em Belo Horizonte. Bem encaminhado o problema do preço do
ferro, resta resolver o da poluição e os decorrentes do aumento espetacular da
população de novos capixabas, que demandam mais escolas, hospitais, transporte,
moradia, água, luz, lazer, cultura, mobilidade, espaços públicos... Toda grande obra de empresas atrai muita
gente. Depois de concluída a instalação da Usina 8 (2014), que temporariamente
empregou milhares de operários, apenas 300 empregos foram criados (Informação
da Vale em Audiência Pública no Colégio Marista de Vila Velha). No Estado a
demanda por serviços públicos se multiplicou, exigindo enormes despesas e
esforço político redobrado. Essas empresas recolhem IPI (imposto federal) e o
Governo investe, no Espírito Santo, menos de 10% da arrecadação que leva daqui.
Somos o penúltimo Estado da Federação, na lista de repasses federais. Quando da primeira edição do projeto A
VALE, A VACA E A PENA (1997), realizei, na entrada da minha galeria, uma
homenagem à Vale. Exibi desenhos do artista Stanislaw Warchalowiski,
funcionário aposentado da empresa, mostrando operários assentando trilhos,
feitos enquanto ele trabalhava como topógrafo, na locação da Estrada de Ferro
Vitória a Minas. Estes desenhos em bico de pena, logo após essa exposição foram
doados à Vale pela família do artista. Integram o acervo do Museu Ferroviário
onde figuram, com destaque, pois são ali documentos únicos no gênero artístico. O jongo de congo -- “estimamos
nossa empresa/ que abastece o mundo/ resolvendo o problema/ o amor será
profundo” -- continuará
sendo cantado: é oportuno. Da nossa maior empresa esperamos o melhor exemplo de
sustentabilidade. A Homenagem, quando foi instituída na
corte francesa, era uma cerimônia, em que o homenageado se comprometia a
empenhar a própria vida, na defesa de quem o distinguia. Quantas homenagens a
Vale já recebeu dos capixabas? Kleber Galvêas, pintor Tel.
(27) 3244 7115 02/2015 ateliegalveas@gmail.com |