Todo governante eleito deveria renunciar ao seu plano de saúde e caso
adoeça, receber tratamento na rede pública; seus filhos deveriam
freqüentar escolas públicas; e uma vez por ano, deveria ir trabalhar
de transporte público. Aprenderia muito sobre os serviços que
nos oferece. Que candidato encara este desafio? Que deputado apresentará Lei
com este propósito?
O caos partidário, que dificulta identificar lideranças autênticas,
determinou especialmente nesta eleição, a falência moral
dos partidos políticos, e da ética na República. Há muita
dificuldade na escolha do nosso candidato. Mas uma coisa é certa, devemos
rejeitar o engano. Manter o Estado, alheio às conseqüências
da poluição e ao impacto da diluição cultural sobre
a população, é inconstitucional. É genocídio
cultural.
Há mais de 20 anos, convidado pelo então prefeito Vasco Alves
e os irmãos Pignaton, conheci o candidato a deputado estadual, Paulo
Hartung. Foi quando da sua primeira fala aos vilavelhenses, na Escola Ferreira
Coelho, Glória. Simpatizei com ele. As informações dos
cicerones, e o fato dele ser da região da Serra do Caparaó, eram ótimas
referências. Passados os anos, vejo que, com meu voto, ajudei a construir
uma farsa.
Atuando na política cultural, há 4 décadas, posso afirmar
que nenhum governo prejudicou tanto a Cultura Capixaba, quanto o atual. Enquanto
deputado, Paulo Hartung fez Lei inviabilizando o Conselho de Cultura, recém
ativado pelo culto Eurico Rezende. Nos anos 80, o Conselho fazia os primeiros
tombamentos de bens culturais, e colaborava com o governo, no resgate da nossa
identidade. Ao assumir, Paulo Hartung fechou o Conselho, órgão
de Secretaria de Estado, cujos membros, indicados pelo governador, eram remunerados
através de “jeton simbólico” (meio salário
mínimo), com a finalidade de colaborar no desenvolvimento da sua política
cultural, que quando apresentada ao povo, foi aprovada em eleição
livre. Displicência, equivoco ou estratégia?
Talvez o único ponto de luz na nuvem negra do governo anterior, foi
a aprovação do Fundo de Cultura. Ignorado pelo atual, que sabe
ser a cultura o que move o indivíduo para além da indiferença.
A estratégia deixou de ser dúvida.
A relação com artistas e ativistas culturais tem sido de desprezo.
Meu ateliê, em diferentes exposições de pesquisa histórica,
foi visitado por mais de 300 mil pessoas ao longo de 27 anos, nunca recebeu
a visita de ninguém da área de cultura deste governo. Um Museu
de Arte, que seja apoio à Educação Artística, matéria
curricular, e que valorize a produção local, inexiste.
Vivemos, especialmente no ES, um processo induzido de diluição
cultural. Muito ao gosto de quem, desprezando a ética, vem transformando,
sem sensibilidade e compensação adequada, a terra capixaba em
quintal das grandes empresas que financiam suas campanhas. Isso fica evidente,
quando vemos em fotografias ou pela televisão, o governador capixaba
entre outros governadores, e em premiações, junto a grandes empresários.
Nossa fraqueza e subserviência aparecem nas imagens.
O político, que parecia ter visão de “Homem da Serra”,
se mostra qual visgo nos pés de passarinhos mais graúdos que
coleiro e canário. Estica-se, para lá e para cá, dentro
do partido; cola no que o toca e pula alegremente de uma para outra legenda.
Sem constrangimento, enrola a República. Sem partido, o maior tempo
do seu governo, enrodilha, em palácio, qual jibóia, engolindo
ratos, morcegos e pássaros ingênuos, que lhe tragam votos. Ética?
Pretende jiboiar por mais quatro anos.
Kleber Galvêas – pintor. Tel. 3244 7115 atelie@galveas.com
08/06