Escrever livro usando o computador ficou fácil, rápido e barato.
Desde que na frente da máquina esteja alguém com uma boa idéia,
capaz de ajustar peças do “quebra cabeça” que é a
língua portuguesa. A última “flor do lácio” (filha
do latim) bela, elegante e sofisticada, é muito difícil de conquistar.
Muitas vezes a palavra certa parece estar escondida e ter tantas opções
na grafia (s, z, ss, ç, x) que ficamos inibidos ao abordá-la.
Esta língua, “prima caçula” das de Dante, Cervantes
e Montaigne, “neta” de Virgílio, é herdeira do prosear
do Império Romano, que fez proselitismo aonde chegou. No Brasil, influenciada
pelo clima, índios e negros, adquiriu prosódia doce, macia e
cativante, que a diferencia do português de Portugal. Em 1960 e 61 estudei
latim, como disciplina obrigatória da 5ª e 6ª séries
do 1º Grau, ficando para recuperação no primeiro ano. Em
62, ele foi abolido do ensino fundamental.
Comparar o computador com o lápis, caneta ou máquina de datilografia,
na ação de escrever, é como comparar o serviço
braçal com aquele feito com máquinas pesadas na extração,
transporte, beneficiamento e colocação de peças de granito
numa obra. É comparar antigos procedimentos no Egito e Roma, com o que
fazemos hoje nas pedreiras e indústrias do granito, no interior do Espírito
Santo e na construção dos edifícios nas cidades.
Nossa língua, menina desinibida e inteligente, tornou-se ainda mais
rica e formosa absorvendo, sem traumas e com elegância, anglicismos,
galicismos, contribuições indígenas, africanas, árabes
e ultimamente do pop americano (brother, brodinho, brou...craudiou). Esta versatilidade
nos proporciona certa facilidade para compreendermos o espanhol, o italiano
e até o francês. Enquanto o inverso não é verdadeiro.
Língua maleável como o mais nobre metal (ouro, platina) é capaz
de eliminar muitos ruídos na comunicação e ser grande
aliada de quantos pretendem veicular idéias na forma escrita.
Entretanto, concretizado o livro e procedida sua distribuição,
nesta era da velocidade e extravagância preconizada pelos futuristas
italianos do princípio do séc.XX (de tantas solicitações
sociais inexpressivas; longas viagens instantâneas; compromissos com
o Super-Estado ganancioso e intrometido; decepções com equívocos
políticos locais e internacionais; circulação de informações
claras ou confusas sobre este e outros mundos; investigações
no micro e macro cosmos; engenharia genética; infinitos entretenimentos;
rotatividade dos modismos; multiplicação das realizações
artísticas autênticas e duvidosas; culto ao corpo e desempenho
físico; infinitas variações das inovações
tecnológicas; obrigação de saber senhas e procedimentos
para operar máquinas modernas no cotidiano; religiões liberais
ou dogmáticas que transbordam da mídia e sedutores apelos da
propaganda comercial) nossa atenção parece saturada, de difícil
sedução por algo singelo, como um livro.
O livro chega fácil às nossas mãos, custo e apoio da mídia
facilitam o encontro. Difícil é superar tantos obstáculos
da vida moderna e conquistar nosso interesse num oceano de opções.
Conseguindo sensibilizar leitores ocorre a transcendência, de objeto
para obra de Arte, aspiração do escritor ansioso por opiniões
(feedback). Não por insegurança na realização do
projeto, mas para verificar se obteve sucesso quanto ao tempo e espaço:
quando e onde mostrar sua obra.
Kleber Galvêas – pintor. Tel.: 3244 7115 atelie@galveas.com www.galveas.com
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