NA DÚVIDA, DESPERTAI!

Não há dúvida de que grande quantidade de minério de ferro (hematita) é lançada sobre nós, todos os dias, pelas siderúrgicas localizadas em Tubarão. Aprendemos a recolher poeira, em qualquer lugar das nossas casas, sobre folha de papel e sob esta folha passar um imã: nossa poeira dança, no compasso do imã, denunciando a presença do ferro. Ferro que, a todo instante, é sugado por nossa respiração. Penetram mais fundo, em nossos pulmões, as partículas menores e os gazes que as acompanham. Gases e aerodispersóides microscópicos (os mais perigosos) não são percebidos por cidadãos desamparados; entretanto as partículas maiores denunciam a fonte e 30 anos de fracasso para conter essa poluição. Segundo cálculo da Comissão de Meio Ambiente da Assembléia Legislativa, a partir de dados fornecidos pela Vale, são 23 toneladas/dia que escapam da empresa.
Não há dúvida (para quem consulta médico, ou o site do Ministério da Saúde - Comitê Assessor em Doenças Pulmonares Ambientais e Ocupacionais) que inspirar pó de hematita é prejudicial à saúde. A doença característica é a silicossiderose, que não tem cura e causa morte por insuficiência respiratória. Neste site e em outros voltados para saúde pública, fica claro que respirar ar com minério de ferro oportuniza doenças como tuberculose, inflamações crônicas, alergias e neoplasias.
Durante as audiências públicas na Assembléia Legislativa, a parceria do governo (IEMA) com a empresa poluidora (na impossibilidade de continuar contestando o que o imã revelou) exibiu, como solução, procedimento que já se mostrou impróprio: espargir água sobre o minério durante o embarque. A umidade deprecia o produto, ampliando a lista de fracassos das empresas, no controle da poluição.
O governo estadual se posicionou sobre a poluição aérea, quando o governador Paulo Hartung, nomeou Secretária de Meio Ambiente, a principal executiva da empresa que fez o Projeto de Impacto Ambiental, indispensável para obtenção da licença de duplicação das siderúrgicas. É de se observar que CST e CEPEMAR (responsável pelo projeto) contribuíram com dinheiro para a campanha eleitoral do governador. Assim a parcialidade do IEMA (diversas vezes criticada pela Presidente da Comissão de Meio Ambiente da AL, gravadas pela TV Assembléia, durante as audiências) revela a predisposição subserviente do governo estadual.
Do Poder Público (executivo, legislativo e judiciário) pedimos atenção para um problema grave que atinge a todos. Não é opcional como o cigarro, combate ao qual tanto se dedicam. As quatro últimas audiências públicas (na AL) aconteceram com a presença de apenas dois deputados estaduais e nenhum federal. Secretarias de saúde (estaduais e municipais) estiveram ausentes. Partidos políticos não enviaram representantes.
A inexpressiva presença da sociedade civil neste debate, e a ausência de setores organizados como universidades, associações, sindicatos, conselhos e federações ligadas à saúde, não se justificam. A pretensão de lideranças comunitárias em negociar a saúde pública em troca de benefícios para suas comunidades, foi reprovada pela Presidente da Comissão de Meio Ambiente da AL.
Na hora em que existe a possibilidade da poluição aérea ganhar o dobro da dimensão de hoje; sem passeatas, faixas, paralisações, bloqueios ou bombas, mas atendendo ao chamado da ética profissional e responsabilidade social, esperamos que nossa mídia e nossos candidatos despertem a tempo de provocarem a dúvida.
Kleber Galvêas – pintor. Tel.: 3244 7115 www.galveas.com ateliê@galveas.com 07/06
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