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MINHA CULPA – publicado em A Tribuna, sábado, 06/julho/2013.

Sou responsável pelas manifestações públicas pacíficas ou exaltadas, cidadãs ou alienadas, que acontecem em nosso País. Mas o maior culpado fica calado. É dever do cidadão manifestar-se sempre, não só votando. Uma boa ideia pode trazer felicidade para muita gente.

Para haver equilíbrio, é necessário que forças contrárias atuem ao mesmo tempo. Daí a excelência da democracia. A rotação da Terra tem velocidade superior a do som, assim nos arremessaria para o espaço sideral, se a força da gravidade não se opusesse. São forças gigantes da natureza sempre em oposição, e nós não percebemos. Política, alavanca poderosa do progresso social, também deveria parecer natural, e conflitos entendidos como a busca da nova síntese, ou ponto de equilíbrio.

Átomos de carbono, submetidos a diferentes temperaturas e pressões, formam diamante, grafite ou carvão. Influências externas (pressão e temperatura) sobre os átomos de carbono, agrupando-os, determinam estruturas, aparências e consistências muito diferentes. Ninguém confunde diamante com carvão ou grafite, embora sejam compostos exclusivamente de carbono. Assim, acontece na sociedade: indivíduos agrupando-se de acordo com os estímulos que recebem podem brilhar como o diamante, deixar rastro como o grafite ou sujar como o carvão.

A civilização busca seu equilíbrio social estável praticando a democracia: contraposição de forças políticas que pretendem organizar o povo de acordo com suas ideologias. Se não há conflito de ideias em hora e lugares próprios, de forma espontânea, com liberdade, não existe o equilíbrio que caracteriza a democracia. O caldo entorna.

Mea Culpa” me parece necessário. A crise política que está nas ruas tem raízes nas pressões que nós mesmos e instituições sociais respeitáveis exercemos sobre os indivíduos. Embora sejamos muito sofisticados continuamos animais, com instintos e sentimentos próprios da nossa espécie. As principais instituições da nossa civilização pensam e agem de forma desumana, pré-iluminista: descuidando o bom senso, tolerância, liberdade e convivência; desprezando a vida, a alegria, o próximo; sufocando o individuo; aplaudindo competições agressivas; promovendo instabilidade generalizada.

Se as escolas praticassem política, desde o primeiro ano, fomentando os grêmios, desenvolvendo interesse social, liderança, avaliação, eleição, cooperação e crítica, despertariam vocações autênticas, lideres teriam melhor formação e, a democracia pareceria natural.

Se a história e a mídia dessem mais espaço aos heróis da paz do que aos agentes da guerra, valorizando a turma do bem e desprezando a do mau (meu neto explica); se a sociedade descriminasse a afetividade, para disputar espaço, em igualdade, com outras atividades humanas como, por exemplo, o esporte, concedendo cinturões e medalhas de ouro olímpico a indivíduos que, no meio de platéia, sob aplausos, trocassem carinho e não sopapos, teríamos atitudes pacificadoras.

Religiões encontram modelo em santos guerreiros, milagrosos, mártires, virgens, para anunciar um céu alegre e feliz. Por que não buscar o céu por caminho mais de acordo com a alegria e felicidade?

Pedimos perdão por aceitarmos com naturalidade mais a violência do que o afeto; por criarmos leis e adotarmos costumes acima do amor, da solidariedade, e dos sentimentos cristãos.

Kleber Galvêas, pintor. Tel. (27) 3244 7115 www.galveas.com julho, 2013


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