MÍDIA CULTURAL PELEGA

Por razões diferentes, no final de 2006, várias exposições de pintura foram abertas no ES. A minha, (www.galveas.com/40x400.htm) tinha que acontecer este ano, para marcar 40 anos da primeira (1966). Planejada para o inverno, acontece no verão.
Agora é hora de conquistar apoio na divulgação: não existe Amor sem amantes; nem Arte sem público.
Também para com a cultura, como faz com todas as áreas (excetuando o seu bolso e umbigo) o governo descumpre suas obrigações constitucionais. A bajulação de parte da mídia, compensa nos espaços públicos a omissão do governo, com prejuízo financeiro da própria mídia e caracterizando as ações independentes como secundárias, aos olhos do público.
O Art. 215, da nossa Constituição, diz: “O Estado... apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais”.
Portanto valorizar e difundir as atividades culturais é obrigação constitucional do Estado, e não da mídia. Esta, com total liberdade e critérios próprios deve buscar a notícia, seja onde estiver: clube, bar, ateliê, galeria, praça, rua... Porque privilegiar os espaços do governo? Deve denunciá-los! Pagam salários a diversos funcionários (incluindo curadores e faxineiras) e ao artista, sua razão de ser, nem um tostão, e confiscam uma obra dele no final da exposição.
O compromisso primeiro da mídia não é valorização e difusão da cultura. È com a notícia, e seu patrimônio é a credibilidade. Avocando, para si, este papel de Estado, perde dinheiro (em anúncios) e leitores (que percebem a postura pelega, servil). Veja a primeira página do Caderno 2, de hoje, 18/12/2006.
Porque um jornal que tem tantos craques na linha de frente (política), profissionais competentes e criativos na defesa (esportes), coloca no meio de campo cultural só marrentos e perebas? O melhor texto publicado sobre a exposição que apresento, foi escrito por um jornalista da área policial.
Nunca visitam as fontes, se vamos à redação mandam deixar o material na portaria e se entramos, mal tiram os olhos do computador. Personalizam nossas atividades e se voltamos para divulgar um novo e melhor trabalho, ouvimos: “já demos apoio no mês passado...” Como se o artista e não sua obra fosse a notícia.
As duas últimas exposições (www.galveas.com) que apresentei no Ateliê: Faces na Primavera (200 anos da pintura de retratos, todas as técnicas, artistas de cinco continentes) mudou para “Faces da Primavera”, sugerindo exposição de paisagens; Quarenta por Quatrocentos, virou “Quatro por Quatrocentos”, me subtraíram 36 anos de atividades. Louis Debbané, lembrado por mim como fundador do MAM dos anos 60, passou a fundador do MAES, dos anos 90. Na única tela mostrada inteira como de Homero Massena, em reportagem especial sobre o Museu Massena, pode ser visto um grave erro de perspectiva no primeiro plano, e ser lida a assinatura do aprendiz Homero Nascimento (ex-prefeito de Barra do Riacho).
Já houve o caso de um caixote de madeirite magenta, que servia de embalagem, fotografado de baixo para cima, aparecer como Arte, ocupando dois terços da primeira página.
Observem que não dão atenção ao autor, ao título e nem aos pontos chaves dos nossos trabalhos. Não há interesse pelo que está perto, empatia com o público. Um desastre para qualquer empresa. Uma editora de cultura local, principiou sua crônica, sábado passado: “... metida a Carrie Bradshaw dos trópicos só que sem taça de Cosmopolitan nem sapato Manolo Blahnik...” Ta explicado: o mal é doença, hipermetropia; a solução, lentes convergentes.
Kleber Galvêas – pintor.