Pinturas
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MACONHA: uma questão de capital? Nunca uma propaganda, sem investimento em dinheiro, obteve
resultado financeiro tão expressivo, influenciou profundamente o mercado, a
cultura, causou tantas mortes e desgraças. A multinacional Du Pont, inventora do nylon, na luta por mercado
fulminou o concorrente mais próximo, sem pagar propaganda: os produtores do
cânhamo. O nylon e seus derivados queriam ocupar todos os espaços da fiação e
tecelagem. A construção civil, navios e veleiros consumiam milhares de metros
de cordas de cânhamo de todas as espessuras: para transporte de material e
içarem velas feitas de cânhamo. As calças blue jeans norte-americanas
tradicionais são confeccionadas com tecidos de cânhamo, assim como muitos
outros tecidos mais ou menos rústicos. Surgiu então a estratégia de demonizar o
cânhamo, de cuja floração simplesmente seca se obtém a maconha. A simplicidade
na produção e uso deste produto dispensa o suporte de uma grande empresa
lucrativa, assim a maconha não obteve capital nem lobistas que a defendesse nos
embates legais. Harry Anshinger (1892 – 1975), inescrupuloso em ascensão no
governo americano era casado com uma sobrinha de Mellon, dono da Gulf Oil, um
dos principais acionistas da Du Pont. Randolph Hearst (Cidadão Kane), que havia
perdido para Pancho Villa 800 mil acres de terras plantadas com eucalipto no
México, era proprietário da mais influente mídia americana e, devotando ódio
aos mexicanos popularizou o termo “marijuana”, para denegrir seus desafetos.
Anshinger, todo poderoso chefe do Federal Bureau of Narcotics,
juntou a fome (Du Pont) com a vontade de comer (Hearst) e assim manteve-se no
cargo por longos anos, alimentando a síndrome da maconha. Para obter sucesso, começaram a plantar nos jornais de Heast,
notas escandalosas: “criminosos fumam maconha para lhes propiciar um espírito
apto para a violência e o crime”; “moça é seduzida pelo namorado, fuma maconha
e se atira do sétimo andar”; “pai de família mata esposa e filhos a machadadas
após fumar maconha”; “rapaz estudioso e bom filho fuma maconha e abandona a
escola e o lar”; “baseado é encontrado em carro acidentado”... Essas notas insistentes e sem contestação despertaram na população
um enorme horror à maconha e, de quebra, contra latinos, culpados por sua
introdução, embora George Washington a cultivasse estando na presidência
(1791). A antiga denominação em inglês “hemp” foi trocada por “marijuana” até
nos documentos oficiais de Estado. Leis impediram qualquer opinião
contrária a oficial. Quem ousasse era apontado como “apologista das drogas”. Hoje, quando repercute na mídia o uso da maconha para fins
medicinais, e Estados Americanos, a exemplo de alguns países, aprovam seu uso
para fins recreativos, milhões de brasileiros que sabem que a maconha não
vicia, não é porta de entrada para drogas pesadas, é concorrente do álcool e
tabagismo, ótimo relaxante, sonífero, estimulante intelectual e, seu uso
moderado não é vedado nem para as grávidas (Medicina Interna - Goodman
and Gilman, livro texto, Faculdade de Medicina - Ufes), não entendem a
razão pela qual o governo não assume o controle da produção e comercialização,
esvaziando o lucrativo tráfico? Esta é a questão. Não há em nenhuma parte do mundo registro de morte por overdose de
maconha. Entretanto na disputa pelo controle do tráfico, só no Brasil,
computamos cerca de 50 mil assassinatos por ano. Hipocrisia, covardia e
ignorância dos legisladores, ou há algo de podre no reino? O lucro obtido por traficantes lhes proporciona segurança,
armamento sofisticado, assessorias e até poder político. Capitalizados estão
aptos para atividades criminosas ousadas, que demandem organização complexa,
equipamentos sofisticados e investimento pesado. Enquanto o governo fica sem recursos para investir em tratamento
de dependentes, nós assistimos a proliferação de cracolândias pelo país e o
crime prosperar. Kleber Galvêas,
pintor. Tel. (27) 3244 7115 www.galveas.com PS. O texto “Droga
Leve”, publicado também em A Tribuna, em 2000, complementa este texto. Leia no
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