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GENEROSIDADE
CRESCENTE
Quando a Vale comemorar 15 anos como empresa privada, em maio de 2012,
o projeto “A VALE, A VACA E A PENA” chegará à
16ª edição. A primeira tela desenhada com a poluição
atmosférica em 1997 (veja o processo do desenho em www.galveas.com
) mostra um labirinto e a inscrição “Encontramos a
saída”? Julgava, que sendo a Vale uma empresa estatal, a
fiscalização feita pelo Estado estava relaxada. Perguntava
se, com a privatização, a poluição seria fiscalizada.
Nesse ano seu lucro foi de U$ 270 milhões, e ela foi vendida em
leilão por U$ 3,7 bilhões.
A nossa instalação artística foi planejada como registro
do último ano de poluição da estatal. Porém,
ao perceber que o pó preto em nossa casa e no trabalho estava aumentando
visivelmente, remontamos a instalação em 1998 nas mesmas
condições do primeiro ano e desenhamos mais uma tela para
a coleção da Casa da Memória do ES.
Em seu primeiro ano como empresa privada, o lucro da Vale foi de U$ 756
milhões; no ano seguinte, de U$ 1,29 bilhões. Quinze anos
depois, chega a quase U$ 30 bilhões.
Enquanto o lucro da empresa alcança valores astronômicos
pelo desempenho fantástico da sua área financeira, impressiona
a decadência da qualidade de vida em seu entorno: aumento da poluição
e dos problemas sociais e políticos.
Quando as primeiras siderúrgicas foram instaladas na Ponta de Tubarão,
a sota-vento da Grande Vitória, os cientistas Ruschi e Michel Bergman
apontaram a impropriedade do local. Naquele tempo a consciência
ecológica era restrita e se fazia premente a geração
de empregos, devido a quebra do café, do cacau e da forte migração
do campo para nossa capital.
Entretanto, uma empresa considerada de alto risco já no inicio,
quando suas dimensões eram relativamente modestas, vem se expandindo
de forma exponencial ao longo dos últimos anos. No relatório
da CPI da Poluição da AL-ES, Resolução Nº
1.808/95, portanto, três anos antes da privatização,
médicos e cientista (Jose Carlos Perini, Ana Maria Cassatti, Valdério
Dettoni e Ennio Candotti) apontam danos irreversíveis à
nossa saúde persistindo a poluição das siderúrgicas.
Não foram ouvidos.
Quanto maior o lucro, mais ativa foi a siderúrgica, o que gerou
maior produção e mais poluição. O descaso
do governo em identificar os responsáveis faz contraponto com a
lista, publicada na imprensa, dos principais contribuintes às campanhas
eleitorais do governo.
No séc. XXI, com expressiva consciência ecológica,
e existindo uma proposta de transferir o parque siderúrgico de
Tubarão (considerando que esse custo será absorvido pelo
formidável lucro anual da Vale, quase dez vezes maior do que o
preço pago por toda ela), a mudança se faz oportuna.
Quando julgávamos que, no alvorecer deste século, a fase
de expansão das siderúrgicas em Tubarão havia cessado,
o governo passado autorizou a construção da Usina 8, gigante
que faz as sete usinas pioneiras parecerem anãs. Com dimensões
fabulosas, é coisa que ninguém no mundo quer ter como vizinho.
Ressuscitaram as Wind fences, cercas para vento que haviam sido rejeitadas
por eles mesmos nos anos 90, e mais uma vez convenceram a quem ansiava
por ser convencido: o Governo
Com uma escova ou pincel, lance sobre uma folha de papel um pouco do pó
que pelo ar chega à sua casa todos os dias. Sob essa folha, movimente
um ímã, desses que enfeitam a geladeira. Observe que parte
da poeira sobre a folha acompanha a movimentação do ímã.
Essa poeira que o segue é constituída de pequenas limalhas:
fragmentos de ferro Fe2, a maioria com dimensões microscópicas.
Ela é importante matéria prima que há 16 anos uso
para desenhar as telas da nossa provocação artística,
graças à “generosidade” sempre crescente das
grandes empresas de Tubarão. Gostaria muito que ela me faltasse
este ano.
Kleber Galvêas, pintor. Tel. (27) 3244 7115 www.galveas.com
PS. Esse texto faz parte da 16ª edição do projeto
A VALE, A VACA E A PENA. Como faço há 16 anos no dia 17
de março, instalei a tela para receber a poeira por 50 dias.
Este ano acredito que será especial, pois a Vale completa 15 anos
como empresa privada; as wind fences foram instaladas; a poluição
aumentou; a empresa recebeu o "Oscar da Vergona" e a super Usina
8 deve começar a funcionar.
Gratíssimo por sua atenção.
Abraço, Kleber
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