FUTURISMO COMTEMPORÂNEO?

Há 100 anos, em fevereiro de 1912, realizou-se em Paris a primeira exposição dos futuristas, que depois percorreu 15 capitais européias. Compunha-se essa mostra de pinturas, esculturas e artes gráficas inspiradas no “Manifesto Futurista”, publicado em Le Fígaro no dia 20 de fevereiro de 1909, assinado por Marinetti, famoso esteta italiano, que influenciou profundamente as artes e a política, no início do séc. XX.
No tempo das locomotivas fumegantes, dos primeiros automóveis e metralhadoras, os futuristas incorporaram definitivamente a “beleza da velocidade” à estética moderna, abrindo a porta para o abstracionismo nas artes plásticas.
Se, na estética, os futuristas acertaram em cheio, na política trouxeram a infâmia para o campo das artes, glorificando a guerra, o militarismo, o bofetão, o ronco das metralhadoras e o desprezo pela mulher. A essas diretrizes listadas no Manifesto (cópia no Google) seguia a recomendação para apagarmos o passado: os museus seriam arrastados para o mar; as bibliotecas, incendiadas; os professores, demitidos; as academias, fechadas. Finalizava conclamando: “E venham, pois, os alegres incendiários... Vamos! Ateiem fogo... Empunhem as picaretas, os machados, os martelos e destruam as cidades venerandas!”
Ao apagar referências culturais do cidadão, o Manifesto tinha como objetivo deixar o caminho livre para a doutrinação fascista: um ditador idolatrado reunindo cidadãos enquadrados em corporações, e treinados em ordem unida, para obedecer e agir sem refletir.
Marinetti inspirou Mussolini e foi seu braço direito na organização do Partido Nacional Fascista. Morreu doente ao regressar do front alemão, onde, para apoiar Hitler, se alistou como voluntário na invasão da Rússia.
Dicionários definem o fascismo como regime estabelecido na Itália entre 1922 e 1945, fundado por Mussolini para estabelecer a ditadura de um partido único, sob a exaltação do nacionalismo e do corporativismo.
No Espírito Santo, com os desdobramentos das leis de “apoio à cultura”, iniciadas no governo Sarney, desenvolvidas por FHC e Lula, em que as iniciativas culturais do povo são esmagadas pela prepotência do Estado (nosso concorrente), pela grana das grandes empresas (que têm seus eleitos) e pelo oportunismo da mídia (desprovida de crítica), tem sucesso ideologias (expressão da vontade de alguns) mascaradas como cultura.
Enquanto a cultura surge do povo e floresce, popular ou erudita, com a parceria ou indiferença do governo, a ideologia é gestada no seio do poder e muitas vezes imposta pela força ou pela persuasão.
Os agentes culturais perderam a voz na mídia. Não existe mais crítica cultural, não se discutem ideias. Reina a unanimidade. Na política, os partidos, cada um com seu dono, fazem coligações contraditórias e vergonhosas, em detrimento de suas identidades. Embora múltiplos, constituem, sob lideranças oportunistas, uma estrutura semelhante à do partido único.
As corporações pelegas, abarrotadas de dinheiro público elegem o fato cultural que deve existir, e o que merece ser visto pelo povo. Suas verbas sustentam ideologias oportunistas, e a publicidade de suas programações, paga por nós, afoga nossas iniciativas sempre tratadas com discrição.
Com identidade demolida, passado ignorado, governados por uma coligação que funciona como partido único, sem oposição, e com sindicatos subsidiados pelo governo. Só nos falta o batismo ideológico. Será Neofascismo?
Kleber Galvêas, pintor Tel. (27) 3244 7115 www.galveas.com fevereiro 2012