Pinturas | EDUCAÇÃO POLÍTICA
– publicado em A Tribuna, 22/10/2013 Aprender não é arquivar conhecimentos: é mudar o comportamento. Liberta o homem da indiferença. Esquenta ou esfria nosso espírito, não permanecemos mornos. Jesus transformou água em vinho para animar a festa. Ele, filósofos e diferentes lideranças condenaram os mornos, aqueles que não formam opinião própria. Dante colocou esses indiferentes “no lugar mais sombrio do inferno”, e Cervantes fez do fidalgo pastiche um D. Quixote! Desde criança aprendemos a falar baixo, a não correr à toa, a comer com parcimônia, a ouvir uma série de sugestões para refletirmos sobre nossas ações, facilitando a convivência. Aprendemos que “a virtude está no meio”. Entretanto estar no meio não é ficar sem ação ou permanecer “em cima do murro”, mas confrontar opiniões para formar a própria e agir. É isso que esperamos do homem atual. Que tenha a sua opinião, atitude, e que a vontade expressa pela maioria seja respeitada, prevalecendo o interesse social sobre vontades particulares, quando o assunto é público. A democracia experimentada em pequena escala e por tempo curto, na Grécia, foi resgatada 2 mil anos depois pelos líderes da independência dos Estados Unidos, influenciados pelos pré-revolucionários franceses. O sucesso da democracia americana, com o primeiro presidente empossado em 1789, foi inspiração, no mesmo ano, para a queda da Bastilha, que deflagrou a Revolução Francesa. Na América do Norte, a estabilidade democrática propiciou crescimento e maturidade nacional. A educação, voltada para o desenvolvimento integral do aluno (cognitivo, afetivo e psicomotor), evoluiu da fase informativa para a formativa. Lá se estudam suas cidades, instituições e formas associativas para se resolverem problemas próximos, formando-se cidadãos democráticos na plenitude dessa expressão. Nas disciplinas acadêmicas, partindo do conhecimento, escalam-se habilidades da Taxonomia de Bloom (conhecimento, compreensão, aplicação, análise, síntese e avaliação). Trabalhos em grupo constituem rotina, e todos os tipos de associações científicas, artísticas, sociais, esportivas, ecológicas, solidárias... são estimuladas. A formação de opinião própria e a prática democrática nas escolas fazem parecer natural, aos americanos, esse procedimento nas grandes e pequenas eleições da democracia, propiciando estabilidade. As nossas escolas evoluíram, desde o tempo em que estudei no ginásio. Os livros, instalações e recursos didáticos deram um salto na qualidade. Descuidou-se, entretanto, das ações sociais e da prática democrática. Grêmios, diretórios, academias, clubes e outras organizações onde se pratica a democracia tornaram-se raros. O regime democrático é a coordenação política objetivando o modelo de progresso eleito. A ação política, por força legal, interfere no cotidiano de todos. Descuidada a formação democrática em alguns países, inclusive no nosso, aparece e cresce o “Grande Irmão”, de George Orwell. A atividade política é altamente responsável pela nossa felicidade, interferindo vivamente em nossos destinos. Assim, merece máxima atenção. Para que o exercício da democracia nos pareça natural, nossas escolas poderiam promover grêmios e associações desde o primeiro ano primário. Acomodadas, mornas, estão inibindo a democracia, o despertar de líderes autênticos, e deixando de preparar seus discípulos para uma vida plena e responsável. Kleber Galvêas, pintor. Tel. (27) 3244 7115 www.galveas.com ateliegalveas@gmail.com - outubro, 2013 |