EDUCAÇÃO, AINDA QUE TARDE!
Em uma das tentativas de fugir da sina de ser pintor (via as dificuldades do
Massena) fui professor. A possibilidade de participar da “Revolução
pela Educação” no Brasil, começando pelo Espírito
Santo e mais três Estados, me iludiu por 3 anos. Isto aconteceu na primeira
metade dos anos 70.
Havia transcorrido 40 anos desde a “Escola Ativa de Vitória”,
primeira “Revolução pela Educação”, liderada
pelo ES, sob o comando do paulista, Professor Deodato. Esta escola foi precursora
na valorização do ensino de ciências, na experiência
como prática de aprendizagem, do método da redescoberta e do construtivismo.
A tentativa capixaba, década de 30, está muito bem documentada
em livros impressos e distribuídos, na época, pelo DIO/ES.
A revolução dos anos 70, da qual participei na vanguarda, como
professor, não resistiu mais que um mandato (Arthur Gherardt Santos) ficou
conhecida como PREMEM, depois PREMEN e popularmente como Escolas Polivalentes.
Muito bem preparados, cheios de entusiasmo, bons salários, excelentes
instalações e materiais didáticos, tínhamos condições
de desenvolver um trabalho de qualidade. Lembro-me bem de mestres, que o provincianismo
ia buscar em centros tradicionais de ensino (SP, RJ) para nos dar treinamento,
ao final dos cursos declararem com sincera humildade: “Vim para trazer,
mas estou levando muito mais”.
A quantidade com qualidade, inteligência e determinação do
governador possibilitaram que estudassem na mesma sala, sua filha (Luciana) e
o filho da lavadeira (Messias). A transição do caráter informativo
para o formativo, determinou uma escalada pela Taxonomia de Blum (conhecimento,
compreensão, aplicação, análise, síntese e
avaliação) na aprendizagem; incentivou o empirismo (observação
e experiência); o espírito criativo, cooperativo (trabalhos em grupo)
e crítico. Era a revolução perfeita, dentro da revolução
de 1964. O prazer em participar deste projeto era tão grande, que me dediquei
e julguei ter encontrado, para minha vida, uma opção profissional
compensatória para a frustração perante a impossibilidade
de dedicação, exclusiva, a Arte.
Em 3 anos, os salários foram congelados, as instalações
se deterioraram, a reposição do material didático não
acontecia, a fuga dos bons professores (faziam concursos e deixavam o magistério)
e o esquecimento da filosofia de ensino (caracterizada pela equiparação
dos conceitos a notas) determinou a minha saída. Fiz barulho documentado
por Nilo de Mingo, TV Gazeta, onde declarei: Eu não me sinto motivado
para convidar os meus alunos para mais tarde exercerem a minha profissão.
Estou recebendo menos do que o pedreiro, que ganhou dinheiro durante a sua formação.
As escolas se deterioraram e nestas condições é impossível
ser professor.
Usando permanentemente calças e camisas poídas e remendadas, compareci
a audiência no Gabinete do Governador, em Palácio. A idéia
era mostrar a situação do professor. Escrevi para jornais, televisão
e rádios. O tema foi debatido em programa popular com a participação
de ouvintes. O governo não se sensibilizou. Fiz greve em 1977. Na frente
da escola cruzei os braços e concedi a entrevista ao Nilo. Nunca mais
voltei, não fui procurado, questionado ou reprimido.
A primeira declaração do nosso governador reeleito (corajosa frente
a votação do Cristovan Buarque) foi de um segundo mandato dedicado
a educação. Fiquei surpreso: paga baixos salários aos professores;
suprimiu os horários de planejamento
nas escolas; está com administração engessada, incapaz de
remanejar professores em benefício do sistema educacional; não
realiza encontros e reciclagem dos professores; as instalações
são insuficientes e inadequadas; o número de professores precisando
ser multiplicado e melhor qualificado...
Meu filho, professor concursado do Estado, pediu demissão este ano. Não
suportou as condições de trabalho e burrice administrativa.
Senhor governador, testemunhei a sua ação predatória quanto
a cultura e educação, durante o primeiro mandato. Fiel a causa
da educação votei em Cristovan Buarque. Estou pronto para aplaudir
aquele que, com humildade aprende e cumpre a palavra, embora tardia, priorizando
a educação.
Kleber Galvêas – pintor Tel. 3244 7115 atelie@galveas.com 10/2006