ECONOMIA E BOM SENSO.

No carnaval 2006, Barra do Jucu, a música mais cantada foi “Salvador Salvou”. Homenagem ao proprietário da Metalúrgica União que duplicou sua empresa, criando empregos. Com poluição sob controle e atuação social, ele conquistou o barrense.
O Sudeste, após erradicação do café, conheceu o inchaço das cidades e o desemprego. Iniciada a industrialização da Ponta de Tubarão, foi grande o entusiasmo. Entretanto, duas vozes se destacaram contra a localização desses empreendimentos: Augusto Ruschi e Michel Bergman. As conseqüências apontadas por eles para a qualidade de vida na Grande Vitória se confirmaram, a despeito de promessas dos governos e das empresas. Há mais de 2 mil anos, fenícios proibiram indústrias de tingir tecido (uma de suas principais atividades econômicas) de se localizarem a sotavento das grandes cidades, devido ao mau cheiro. Tubarão, além de odores, gases venenosos, poeira insidiosa, é uma grande fornalha que aquece o vento nordeste, nosso antigo refrigério por sua constância no verão. Segundo o Dicionário Estatístico de Cezar Augusto Marques, no ano de 1878, a temperatura média anual em Vitória, era 23º C.
A ocupação da Praia da Costa e do manguezal que a unia a Vila Velha, revelou nossa displicência e falta de liderança. Espaço ocupado, quase 100 anos depois de Copacabana, ao contrário do bairro carioca, não tem nenhuma praça. Uma das mais belas praias do mundo foi transformada em favela.
As demandas crescentes por energia, água, transporte, saúde, educação, lazer, habitação e segurança, nunca foram satisfeitas por nossos governos fracos, incapazes de exigir das empresas atuação responsável. Elas produzem riqueza, abastecem o mundo de ferro da melhor qualidade, mas dão origem a problemas para quem as abriga, prove de mão-de-obra e suporta pacientemente suas inconveniências.
A Ufes, incapaz de pesquisas autênticas, não produz material para respaldar demandas por reparação de danos à saúde, equipamentos eletro-eletrônicos e higiene. Nenhuma ação indenizatória se sustenta sem pesquisa que a fundamente. Isto sim, pipocando nos tribunais, convence acionista.
O turismo encolhe na proporção em que a poluição aumenta. Hoje, há consenso, de que a localização de siderúrgicas em Tubarão é imprópria. Como concordar com a sua duplicação naquela área? O argumento das empresas poluidoras é que, com a duplicação, a poluição vai diminuir. Explicam que a nova unidade terá filtros modernos e que as antigas também serão contempladas. É bom testar esses equipamentos nas usinas existentes, para não cairmos, mais uma vez, na mesma esparrela. Até ontem, eles diziam que elas possuíam filtros eficientes.
Nosso governo financia campanhas agressivas e caras, combatendo o tabagismo, que é opção individual. Quanto à poluição, que atinge a todos, fecha os olhos.
Curiosa é a atitude de entidades que estão sempre dispostas a atacar a Aracruz, e se calam quanto a Vale. Para empresas localizadas no primeiro mundo, onde árvores custam dez vezes mais para crescer, interessa que a produção de celulose da concorrente tupiniquim seja cara e encontre dificuldades. A produção de ferro, não. Só tem concorrentes no terceiro mundo e, esse insumo, deve ter o menor preço para o primeiro mundo. Assim, delas não se cobra segurança, higiene e responsabilidade ambiental.
Que as siderúrgicas cresçam junto às jazidas de ferro, como ensina a cartilha de economia; ou ao longo do percurso, mas distantes do Porto de Tubarão, como dita o bom senso.
Kleber Galvêas – pintor tel. 3244 7115 03/06