Pinturas
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DESPERTANDO A NOSSA SENSIBILIDADE PARA A ARTE
Marcel Duchamp, expondo em coletiva (1917)
o mictório industrial de louça branca, de uso comum em banheiros públicos, não
tinha nenhum interesse na peça em si. Nem sequer foi resgatá-la após a
exibição. Interessava-lhe a provocação: um objeto comum (ready-made),
em ambiente inesperado, desperta comentários, leva o público para além da
indiferença. No Espírito Santo (1971), em atitude semelhante, Nenna (hoje em
Paris) expôs apenas a sua ficha de inscrição emoldurada, em coletiva organizada
pela Ufes. Em tempos de multilateralidade da
Arte Atual, “pós-contemporânea” (sic), artistas abstratos informais (tachistas)
emolduram suas telas com manchas coloridas ou não e mostram-nas bem
iluminadas em paredes de galerias. Artistas abstratos geométricos fazem o
mesmo. O propósito desses artistas, atentos à filosofia da Arte Atual, não é a
valorização de suas peças, mas é o mesmo de da Vinci, Duchamp, Nena e de tantos
outros artistas atuais conscientes: despertar o observador para os fatos
estéticos do cotidiano. O café derramado sobre a toalha não é só trabalho; a
casca de banana esmagada que deixou rastro brilhante sobre o asfalto fosco não
é só sujeira... Há beleza no ar, em todo lugar. O artista atual sabe que na
globalização, ao contrario da matemática, são os diferentes que somam. Ele
busca qualidade e diversidade na sua produção, superando viseiras e
intransigências que limitam a arte contemporânea, que, autocrática, julga bastar-se
a si mesma. Em forma e conteúdo não aliena o observador, resgata a tradição e é
vanguarda. Liberdade/clareza, autenticidade/audácia, versatilidade/inovação são
o seu diferencial. O artista atual valoriza o público,
sabendo que a sua obra só acontece se percebida e que sua função é fazer nossas
vidas mais plenas. Assim, através da sua atuação, procura também despertar
nossa sensibilidade para os fatos estéticos banais, que ocorrem no cotidiano. Kleber Galvêas, pintor. Tel. (27) 3244 7115 www.galveas.com agosto,
2015 |