Pinturas
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CULTURA QUE BALANÇA Quase tudo que balança ou treme acaba caindo. “Balança, mas não cai” só acontece em programa humorístico do rádio e TV. Ministério da Cultura vai, não vai, é a primeira sacudida forte do governo Temer. Governo, artistas, acadêmicos e políticos parecem não saber o que é cultura. Daí a confusão. Cultura é imanente ao povo, isto é, todo povo tem a sua cultura própria, sua expressão. Nenhuma pode ser classificada como inferior ou superior a outra. Cultura não é formação, é o substrato do povo, aquilo que forma a sua parte essencial. É a base ou geratriz do fenômeno político em uma sociedade. Índios encontrados no Brasil, na época do descobrimento, não tinham chefes, caciques ou morubixabas. Europeus, acostumados com seus reis, ficaram surpresos: os líderes indígenas eram provisórios. Sempre apontavam o melhor para cada ação: guerra, um; pesca e caça, outros... Índios levados à presença de Carlos V, o homem mais poderoso da Europa, saíram da audiência perplexos, como conta Montaigne: “Como pode um rapazola (Carlos V) mandar em homens barbados e ser paparicado por todos?” Lembrei-me dos nossos índios para mostrar que a cultura precede e prevalece sobre a política. Culturas diferentes dão origem a políticas diferentes. À política, por sua vez, compete administrar a sociedade, atendendo aos seus anseios quanto à liberdade, igualdade, serviços públicos e zelo pelo patrimônio cultural material e imaterial. A iniciativa do fazer cultural é sempre do povo, por precedência e definição do que é cultura. Quando usurpado esse predicado, administrado e ministrado ao povo, deixa de ser cultura, recebe um sufixo “ismo” como complemento na denominação, referente ao agente, grupo instituidor ou patrocinador: getulismo, imperialismo, comunismo... |
Um
ministério administra e executa leis em nome da sociedade, ministra
conhecimentos, seguindo um modelo idealizado pela política temporária
do partido no poder. A cultura deve se manter livre, impessoal e
atemporal. Não cabe em nenhum ministério. Que um deles, bem rico, tipo
MEC, cuide da preservação do patrimônio cultural material e imaterial
do povo, de promover concursos nas diferentes modalidades artísticas,
mas que as ações culturais (populares ou eruditas) sejam de iniciativa
do cidadão. Parcerias com o governo, em jogo aberto intermediado pelo Conselho de Cultura, serão legítimas e bem-vindas. Kleber Galvêas, pintor. Tel. (27) 3244 7115 www.galveas.com maio, 2016 |