Em março de 2003, em artigo intitulado “Identidade Capixaba” afirmei
que nenhuma editoria perdeu tanto espaço na mídia quanto a de
cultura. Chamava a atenção para a criatividade dos repórteres
esportivos, a combatividade dos da área de cidade e política,
e o espaço, cada vez maior, conquistado pela religião. Insisti
que a mídia cultural devia recuperar seu espaço produzindo material
criativo, investigativo e de melhor qualidade. Afinal cultura é o que
move o indivíduo para além da indiferença e, na globalização,
os diferentes se somam, os iguais pouco acrescentam e benefícios são
proporcionais à contribuição.
Domingo, 10 de julho de 2005, jornal de grande tiragem no Estado trouxe entrevista
com Paulo Herkenhoff. Uma página inteira!
Ali, o jornalista perdeu a oportunidade de saber do primeiro capixaba a ser
Diretor do MNBA, o destino do retrato de Anchieta pintado por Belchior Paulo,
levado para ser restaurado no MNBA há 50 anos e que ainda não
retornou para o ES. Este é o único retrato de Anchieta pintado
por um contemporâneo seu, no final de séc. XVI. Os repórteres
culturais não sabem disso, não visitam as fontes. Tenho o meu
ateliê aberto ao público há 26 anos. Nele mostrei resultados
de pesquisas de campo e o trabalho de 90% dos artistas plásticos atuantes
no ES. Raramente aparece por aqui um jornalista da área de cultura para
conversarmos e quando visitamos as redações estão sempre
muito ocupados.
A reportagem, em questão, deixou de nos dizer em que consistiu a curadoria
dessa exposição individual de fotografias que, no texto, só é mencionada,
e quanto pagamos por ela. A Vale deduz, através das leis de incentivo
cultural, o investimento realizado. Nós pagamos tudo o que acontece
ali, do uísque até a propaganda. Queremos também informações
objetivas. Poderia ser perguntado se o contrato de curadoria é uma retribuição,
ou se um curador daqui terá uma contrapartida por lá, oportunamente.
Nosso repórter poderia ter contestado, com documentos, três afirmações
incorretas do entrevistado, dadas apenas a uma pergunta sua. Ele disse que
nossa história da arte é rala; que custamos a ter uma escola
de Belas Artes; e apontou como exemplo a exposição Fanzeres/
Massena, no Museu Ferroviário.
* Somos depositários da tela há mais tempo exposta ao público
nas Américas e das duas telas mais antigas pintadas no Brasil. (Uma
delas está com ele no MNBA, que poderá nos devolver para engrossar
nosso acervo). O conterrâneo devia ter se lembrado do cachoeirense Levino
Fanzeres que criou a mais importante escola livre de pintura do Brasil, Quinta
da Boa Vista, Rio de Janeiro; dos viajantes estrangeiros que desenharam e aquarelaram
por aqui; do Dionísio Del Santo; Samú; Roberto Newman...
* Temos a sétima Escola de Belas Artes do país, hoje transformada
em CA da Ufes.
* A curadoria equivocada da exposição Fanzeres/Massena, no Museu
da Vale, ensejou que eu deixasse no livro de assinaturas do Museu quase uma
página de observações.
A formação do acervo de um Museu não deve se pautar pela
avareza, como no MASP, onde a maior parte da coleção é de
retratos, sempre uma pechincha se comparado a outros temas da pintura. Nem
pela mesquinharia: se existem verbas para consertar a parte elétrica
do museu, cafezinho e até para pagar a pessoa que varre as salas, por
que o artista que é a razão de ser do espaço deve doar
uma obra? A entrevista menciona essa doação 4 vezes. Sem contestação.
2005