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APRENDIZAGEM

Na juventude, anos 1967/68, estudei em Lisboa, o que me deu oportunidade de ir à África duas vezes, passar dois meses em Londres e visitar museus na Holanda, França e Espanha. No Oregon, durante quatro meses, pintei as mudanças de cores no outono e, em Barbados, pintei a primavera. Andei...

A única vez em que fui roubado foi na Holanda, em albergue para estudantes universitários. Na Espanha, me levaram uma carteira velha recheada com tiras de jornal. Explico: disseram-me que não passaria ileso por lá, assim, para testar as informações tentei perceber o momento em que o larápio levaria a carteira falsa do meu bolso. Embora atento, não senti. A coisa foi feita com perícia, por profissional.

Aqui, no centro de Vitória, Dona Domingas Betero fazia compras com amigas. Cuidadosa, conservava a bolsa sob o braço. Um pivete, com safanões, arrancou-lhe a bolsa, ela se desequilibrou, caiu, partiu a bacia e o fêmur. Nunca mais foi a mesma, e sua dor foi sentida por toda a família e amigos. Faleceu...

Desde os anos 1960, as coisas mudaram muito na Europa. Os parlamentos da Holanda e Espanha quebraram a reserva de mercado e o monopólio, garantidos legalmente por seus governos, para traficantes de drogas. Criaram leis, cada qual do seu jeito, mas todas com o objetivo de descapitalizar traficantes, economizar e obter recursos para o governo investir em saúde e educação.

Perceberam que traficantes acumulavam grandes fortunas, possibilitando assessorias de alto nível, estrutura invejável, organização profissional, grande poder de fogo e influência política apreciável.

A Mídia Nacional mostra, todos os dias, centenas de fatos semelhantes ao ocorrido com Dona Domingas. Grupos estruturados sequestram, fecham cidades, arrombam bancos, cavam túneis e explodem onde há dinheiro. Cidadãos permanecem confinados em suas casas e, inseguros, seguem para o trabalho.

68 mil soldados americanos morreram durante toda a guerra do Vietnam. Morre quase o mesmo número de brasileiros, todos os anos, ligados ao tráfico, defendendo seus territórios. Chefes, gerentes, mulas, vapores, aviões, carregamentos expressivos com armas e drogas são apreendidos, sem que se quebre a estrutura e funcionamento da “empresa”, pois o preço da “mercadoria” não é afetado por essas ações.

392 presos, sob custódia do Estado, morreram em 2016 de forma violenta dentro das nossas prisões. Chacinas macabras acontecem com frequência.

Vigilância eletrônica, grades, cercas elétricas, cães ferozes e outras providências de segurança patrimonial dispendiosas são comuns até em residências. Vivemos recolhidos, em estado de guerra.

Aprendizagem é mudança de comportamento. Enquanto o Brasil continuar gastando mensalmente R$ 5 mil reais com um preso, pagando R$ 2 mil a um professor, e o estudante de medicina tendo mensalidades de R$ 6 mil, nossa sociedade não vai mudar o comportamento.

Podemos aprender a administrar recursos públicos com as experiências europeias, de alguns estados americanos, ou com nosso vizinho do sul.  Se não conseguirmos interromper o fluxo de capital para o tráfico, continuará a selvageria nas cadeias e nas ruas. Isso afeta a liberdade de todos, e põe em risco nossa democracia.

Estamos fazendo guerra, construindo cadeias e investindo pesado em segurança, ao invés de desenvolver saúde e educação. Ficamos nos repetindo.

Kleber Galvêas, pintor. www.galveas.com Tel. (27) 3244 7115 janeiro, 2017


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