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A PINTURA E OS CINCO SENTIDOS
Cientistas que pesquisam o comportamento humano, em sua interação com o
ambiente, afirmam que 80% da comunicação do nosso corpo com o mundo exterior é
feita através da visão. É tal a eficiência deste aparelho que os outros sentidos
se acomodam. Daí a surpresa agradável daquele que ficou cego, ao descobrir o
potencial do tato, audição, olfato e paladar, na percepção do ambiente que o
cerca.
O homem primitivo (Homo sapiens) quando se refugiou em cavernas, nos últimos 40
mil anos, esculpiu e pintou em suas paredes, interferindo no bloqueio
arquitetônico da sua visão. Construindo casas, templos e até sepulturas, nos
primórdios das civilizações, decorou as paredes, como revelam as descobertas
arqueológicas (Satal Hüyük) de até 9 mil anos.
Nada é mais intimamente percebido pelo nosso ser, influenciando decisivamente
nossa relação com o meio ambiente, do que a limitação de um dos sentidos.
Especialmente o da visão, nossa “janela” mais ampla. Curiosamente, em se
tratando de arte, a “janela” do ouvido, muito menor, parece merecer maior
atenção das pessoas.
Embora a audição represente menos de 20% do nosso contato com o ambiente, as
pessoas são muito criteriosas ao montar suas discotecas e na escolha dos
equipamentos. Reprovam desafinados, ruídos, ecos e estilos com os quais não têm
afinidade.
Com a pintura não é assim. Encontramos poucas pinturas de qualidade bem
posicionadas e adequadamente iluminadas, mesmo em salas “elegantes” e salões
oficiais.
A razão deste disparate se deve à ausência de tradição (a pintura chegou, de
fato, ao ES em 1951); formação de público (aqui não há museus com coleções
permanentes); desprezo do governo por preceitos constitucionais (Art. 215 e
216); despreparo da mídia (preconceito e formação deficiente) e à pretensão de
muitos artistas.
Pintores, escultores e outros do gênero, que se nomeiam “artistas plásticos”,
ao contrário daqueles que produzem para a audição, paladar, tato e olfato,
ainda acreditam que se bastam e que a arte está na obra que produziram ou na
sua execução. Subestimam a relação com o público falando em “obra de arte”,
quando o mais próprio seria “obra para arte”. O orgulho e a vaidade se
sobrepondo à razão - desprezando a figura do observador - vão contra a
natureza da arte.
A arte não acontece se não houver público. Só se realiza havendo observador que
se sensibilize ao apreciar a peça oferecida pelo artista, seja ele
atual, contemporâneo, moderno, barroco, ou mais antigo. Se exibida
permanece "viva" e atuante, transcendendo a vida efêmera do autor.
Kleber Galveas, pintor. Tel. (27) 3244 7115 www.galveas.com 11/2015.
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