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AMAI-VOS UNS AOS OUTROS
“GRAMPO NA REDE GAZETA” -- esta foi a manchete de primeira página do
Jornal A Gazeta, domingo, 11 de dezembro de 2005. Um fato local,
tratado inicialmente com competência pela mídia capixaba, encontrou ressonância
além da nossa fronteira.
Elogio, com frequência, segmentos da mídia local e nacional, notadamente o
esportivo nacional que confere, mostra com espaço, repete, tira teimas; envolve
arte, ciências e cidadania com o esporte. Percebo o desenvolvimento das
diferentes editorias, o avanço da religião, do esporte, da reportagem policial
e o encolhimento do espaço cultural nos veículos.
A diluição, a perda de nossa identidade cultural e a baixa autoestima tem
origem na carência de referências. Quando, num domingo (entre uma semana
recheada de eventos e a próxima com boa programação), a primeira página dos
cadernos de cultura dos nossos jornais é toda dedicada a grandes estrelas
nacionais ou internacionais, subvertemos a ação cultural local. Isso define “a
Província que se espelha na Corte”, e tem feito leitores migrarem para jornais
originais de SP e Rio. Carecemos do genuíno para saber quem somos nós.
Massena fez sucesso em Curitiba, nos anos 1930. Tenho a 1ª e a 8ª páginas do
jornal O Paraná, de 4 de dezembro de 1980, 50 anos depois que ele
pintou por lá. Na capa, sob a manchete “Greve para todas as Universidades”,
aparece foto (24x12 cm.) de quadro do Massena e, lá dentro, a manchete “Viúva
do pintor Homero Massena visita o Oeste”, com fotos e bom texto. Projeção que
ele nunca alcançou enquanto viveu aqui durante décadas.
Em 1982, passei 100 dias no Óregon (EUA), pintando a mudança de cores na
paisagem durante todo o outono. Para captar opiniões, mostrei o resultado em
Mill City e visitei o jornal local buscando apoio na divulgação da exposição.
Levei meu arquivo de recortes, e um deles intrigou a todos naquela redação. Não
pelo que continha sobre meu trabalho, mas pelo verso daquela página, a primeira
do caderno de cultura, dedicada aos 30 anos da morte de James Dean. A folha
passou de mão em mão. Todos riram do absurdo. Deram-me um quarto da quarta
página, com fotografia de uma tela. Saí satisfeito com o espaço conquistado,
mas envergonhado.
Na acelerada globalização (onde, contrariando a matemática, são os diferentes
que somam), nossa contribuição pífia terá consequência desastrosa: a perda da
identidade e nossa irrelevância na ocupação deste espaço na terra.
O ES, com sua natureza exuberante, é um tubo de ensaio sociológico, onde
culturas, cores e religiões convivem. Não é difícil encontrar o interessante.
Artistas e produtores locais, enfrentando a desinteligência do governo que não
cumpre o Art. 215 da Constituição, e o baixo interesse da mídia por suas realizações,
estão frustrados e têm dificuldade em conseguir parceiros para novas
empreitadas. Dificilmente conseguem público expressivo para suas obras e, sem
público, a Arte não acontece. Há anos o constante tratamento dado ao exótico
sedimentou, na mente do capixaba, que tem maior importância o que vem de fora
(destacado na TV e na primeira página dos jornais).
O “Grampo na rede Gazeta” repercutiu nacionalmente porque somos levados
a sério, quando vistos fora daqui. Saindo bem dessa parada absurda de espionagem
da mídia, culpados exemplarmente punidos, esperamos que esse crime, sem
precedente, nunca mais se repita.
Se o governo cumprir a sua obrigação constitucional: “Art. 215 – O
Estado... apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais”;
e a nossa mídia mostrar, com propriedade, nossas obras e ações culturais
próprias, as pessoas poderão nos conhecer melhor: seremos queridos e amados.
Afinal, só se ama o que se conhece e, para tal, precisamos aparecer bem.
Kleber Galvêas – pintor. Tel.: 3244 7115 ateliegalveas@gmail.com
dezembro/2005
Esta
semana o Ateliê fui visitado por grupo de turistas de SP que está há 15 dias em
Guarapari. Eles me perguntaram se não existem artistas no ES, pois procuram
atrações locais em guias de jornais e televisão, para conhecerem melhor nosso
Estado, e só encontram shows e mostras alienígenas. Nas livrarias visitadas não
há livros de autores locais.
Assim
resolvi ressuscitar um texto que escrevi em 2005.
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