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ADQUIRINDO OBRAS DE ARTE

 

Não se deve comprar obra de arte sem que ela o “compre” primeiro. Na aquisição, para integrar a decoração do seu lar ou do seu ambiente de trabalho, poderá pedir opinião, mas nunca delegue a decisão. A relação com uma pintura ou escultura, que ficará próxima a você, permanentemente exposta, não é aquela que temos com joias ou outros objetos que, cansados, guardamos. Uma escultura ou pintura exposta “vive”. Longe dos olhos torna-se apenas objeto.

O forte interesse que nos despertam certos objetos de arte faz com que esculturas de poucos centímetros ou telas com menos de 1 m2 obtenham em leilões valores que se aproximam de R$ 1 bilhão.

Como a transação deve funcionar de forma pessoal e às avessas (o comprador é “comprado”), vamos apresentar sugestões e afastar riscos:

- visite, sem compromisso, as exposições de diferentes artistas as quais acontecem regularmente;

- em leilões feitos pela Internet, há o risco de ser necessária a restauração das peças, pois são vendidas “no estado atual” (dificilmente o problema é percebido nas fotos apresentadas, e o custo desse serviço pode ser superior ao valor da aquisição);

- o problema mais sério e complicado em leilões virtuais e também nos presenciais diz respeito à autenticidade da peça.

Conheço alguns casos de falsa identidade. Recentemente documentamos e ajudamos a resolver um caso surpreendente. Aconteceu com tela assinada, atribuída ao capixaba Levino Fanzeres, que, misteriosamente, se transformou em pintura do mineiro Edgar Walter.

Meu vizinho, médico, dono de ampla e excelente pinacoteca, adquiriu em leilão, pela Internet, uma tela assinada, atribuída ao Fanzeres. Precisando ser restaurada, a tela foi trazida ao ateliê para que eu a examinasse. Logo que a vi disse que, embora constasse a assinatura, aquela tela não apresentava a fatura característica do Fanzeres, e que parecia mais obra da Escola Mineira do Edgar Walter. Foi quando o médico, observando atentamente a assinatura, notou que o “Fanseres” da nova aquisição estava grafado com “S” e não com “Z”. Na comunicação com o leiloeiro, desfazendo a compra, ele enviou fotos da tela e da assinatura. Informou que a fatura daquele trabalho havia sido apontada como sendo do Edgar Walter. Logo recebeu o dinheiro pago de volta e também para embalar e devolver a tela.

Passados poucos meses, o proprietário de uma agência de segurança virtual, em Vila Velha, trouxe uma tela para restauração, adquirida em leilão pela Internet. Essa tela poderia ter sido arrematada por qualquer cidadão do mundo. Quis o destino que ela voltasse a Vila Velha e ao meu ateliê. Era a mesma obra comprada pelo médico vizinho e assinada Fanseres. Agora, entretanto, ostentava a assinatura do Edgar Walter. Achei a coincidência fantástica. Pedi ao vizinho que viesse ao ateliê. Ele imediatamente reconheceu a obra e repassou ao novo proprietário toda a documentação dessa fraude, arquivada em seu computador.

Em O Globo de 07-05-2013, Izabela Couto, repercutindo notícias publicadas nos Estados Unidos, escreve: “Sob suspeita de falsificação, a casa de leilões Chiristie’s, de NY, retira, às pressas, dez obras brasileiras de leilão.” As peças retiradas constam do catálogo. Mais adiante, em seu artigo, cita Haruyoshi Ono: “Não fui consultado antes da confecção do catálogo. Só de olhar percebi a falsificação.” Ela cita também o filho de Amilcar de Castro: “Vi que a obra em questão não está em nenhum catálogo do meu pai.”

Matéria, no JusBrasil – Diários (11-01-2011), informa que a compradora de duas telas (Burle Marx e Milton DaCosta), em galeria de São Paulo, obteve indenização de R$ 102 mil, após provar serem falsas as pinturas

Comprar obras de arte do próprio artista ou do seu marchand de confiança tem algumas vantagens: a aquisição direta adiciona valor comercial, agregando à peça a história que a acompanhará; dispensa expertise, restauração e principalmente propicia tranquilidade.

Kleber Galvêas, pintor. Tel. (27) 3244 7115 www.galveas.com outubro, 2015

 

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