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A VALE A VACA E A PENA -
Antecedentes
Este projeto consistiu inicialmente em colocarmos telas
virgens e brancas, na posição horizontal sobre uma mesa, na varanda coberta
do meu ateliê, localizado na Prainha em Vila Velha. Usando apenas a poeira
que se depositou sobre elas, ao longo de 50 dias, realizaremos ali desenhos
relativos à poluição atmosférica. Isto foi feito de 1997 a 2001, no mesmo
período, 17 de março à 6 de maio, com os mesmos procedimentos, materiais,
lugar, posição e dimensão das telas. Procuramos controlar o maior número
de fatores para possibilitar uma comparação dos resultados, ano a ano.
Em 5 anos, produzimos 20 telas, doadas à Casa da Memória de V. Velha.
Sem apoio ou patrocínio, realizamos: instalações, performances, teatro,
música, declamações, panfletos e exposições intinerantes das telas desenhadas
com a poeira. Várias escolas nos visitaram e fomos atração nas últimas
Festas da Penha. Mais de 200 mil pessoas viram a exposição permanente,
ao longo desses anos.
A Vale é um marco na economia capixaba, antes lugar de toda pobreza. Possibilitou
um crescimento vertiginoso da nossa economia e minimizou as conseqüências
do êxodo rural com a falência da cafeicultura no ES, Minas, Norte-Fluminense
e a quebra do cacau na Bahia. Entretanto não é justo que capixabas paguem
preço tão alto, quando existe solução técnica e a empresa tem alcançado
lucros extraordinários. Quando o governo ao invés de exigir civilidade,
possibilita uma mega expansão das empresas que não resolveram os problemas
ambientais que criaram, é preocupante.
Durante Audiência Pública na CMV em 1998, técnicos de grandes empresas
minimizaram a presença do ferro na poeira da Grande Vitória. A vilã apontada
por eles foi a construção civil. Moradores das ilhas (Frade e Boi) que
recebem em suas casas enorme quantidade de poeira reagiram, lembrando
a direção e sentido do vento predominante, cor e cintilação das partículas,
típicas do minério de ferro. Como um palestrante questionou a composição
da poeira fixada nas telas do projeto A VALE, A VACA E A PENA, ali em
exposição, sugeri uma experiência simples: junte sobre uma folha de papel
um pouco da poeira que chega à sua casa; pegue um imã (desses que enfeitam
geladeiras) e observe o que acontece ao esfregá-lo sob o papel.
Três elementos (ferro, níquel, cobalto) e alguns óxidos ferrosos são atraídos
por imã. No ES não há registro de empresas manipulando volumes significativos
de níquel ou cobalto, já minério de ferro e ferro rolam em quantidades
impressionantes e com alto grau de pureza, na região da Ponta de Tubarão.
Sabemos que o vento predominante na GV é o nordeste e que é ele quem traz
a sujeira, pois o vento sul também freqüente, vem sempre acompanhado de
chuvas que apagam a poeira.
Inevitavelmente, antes de chegar até nossas casas, o vento nordeste passa
pela região de Tubarão e aí se abastece para sujar nossas cidades, causando
problemas em equipamentos e prejudicando nossa saúde. Além das partículas
sólidas que podemos observar, traz gases de difícil percepção para cidadãos
desamparados.
Tenho 6 irmãos e minha esposa 15, todos com mais de 40 anos e nenhum com
registro importante de problemas respiratórios ou auditivos na infância,
vivida quando nossa atmosfera não era poluída. Nossos 3 filhos já sofreram
cirurgias no nariz e ouvido. A genética não explica mas a ciência informa
que algo, no aparelho respiratório, provocou o bloqueio da trompa de eustáquio,
retendo secreção no ouvido médio, acarretando dor e surdez. É uma amostra
pequena e observação sem rigor científico, mas indica como agravamento
dos problemas a mudança profunda no nosso meio ambiente, no espaço de
uma geração. Com a palavra os especialistas.
Jornais publicaram balanços fantásticos das grandes empresas ligadas ao
ferro, notadamente da Vale pós- privatização. Seu lucro anual já é próximo
ao preço total pago por ela. Por sua grande participação no mercado mundial
do aço a performance da Vale é importantíssima para a economia local e
global, na geração de riqueza e aceleração do nosso crescimento econômico.
Apostei na sua privatização julgando que não era confiável o governo fiscalizar
suas próprias empresas e que haveria uma face para corar de vergonha com
a poluição. Errei!
Participando de manifestações e observando a expansão das empresas ser
autorizada antes de resolverem os problemas que geraram, ainda acredito
numa Solução Legal.
Precisamos do Governo e Universidade realizando pesquisas que sirvam de
referência para laudos médicos e técnicos, que poderão subsidiar a Justiça
nas demandas propostas por quem se sente prejudicado pelas empresas que,
por deficiências técnicas, não controlam sua poluição.
Na hora em que as indenizações pipocarem alcançando valores significativos,
uma equação econômica vai sensibilizar acionistas e sinalizar para investimentos
na área de controle da poluição. Sejamos realistas: esse procedimento
é linguagem que toda S/A entende.
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CORTINA
DE FUMAÇA
O Homo erectus surgiu na África por volta de 1.6
milhão a.C. Para chegar à Europa levou cerca de 800.000
anos e só o conseguiu após dominar o fogo. Os primeiros
vestígios dessa conquista foram encontrados em Terra Amata, sudoeste
da França,(fogueira) e Tsoukoudian, China (fogão) datados
aproximadamente, 400.000 a.C. Só após dominar o fogo o homem
se espalhou pela terra; melhorou a qualidade e quantidade da sua alimentação;
encontrou defesa contra predadores e resistiu ao frio dos períodos
glaciais. Onde há fogo em matéria orgânica, há
fumaça. Nossa convivência com ela conta centenas de milhares
de anos, é anterior ao aparecimento da nossa espécie, Homo
sapiens sapiens, cerca de 40 mil a.C.
Não se encontram fósseis dos primeiros humanos nos longos
períodos glaciais, o que nos leva a crer que o número de
indivíduos diminuía muito durante os milhares de anos em
que o gelo se espalhava pela terra e a convivência com a fumaça
era contínua. Vivemos um período interglacial, a última
glaciação teve seu apogeu há 18 mil anos e terminou
há 8 mil anos. Durante as glaciações só sobreviveram
e se reproduziram aqueles que usando o fogo para se aquecer, suportaram
a fumaça o dia todo em abrigos pouco ventilados. Fumaça
oriunda da queima de madeiras, cascas, folhas e até fezes, que
liberavam gases, alcatrão e alcalóides, entre esses, a nicotina.
Levi-Strauss em seu livro “Saudades do Brasil”, na página
136, nos mostra a foto de um índio com cinzas no rosto e explica:
“...às vezes, ao despertar, os índios têm o
rosto manchado de cinzas, durante o sono eles se aproximam o máximo
possível do fogo quando sentem o frio da manhã”. A
morte, pelo frio e fumaça, selecionou nossos antepassados, encurralados
em abrigos saturados de fumaça da fogueira necessária o
dia todo. Com certeza somos descendentes dos que resistiram ao frio e
à fumaça agressiva, que entrava pelo nariz, boca e poros,
desde o nascimento. Arqueólogos já encontraram uma dezena
de espécies de nossos antepassados e colaterais que desapareceram
após a conquista do fogo, a última, a Neandertalense, (Homo
sapiens) desapareceu há 30 000 anos. Todas tiveram convivência
intensa com a fumaça, nos milhares de anos das sucessivas glaciações.
Cerca de 50 000 gerações, desde o Homo erectus, viveram
nessas condições e só sobreviveram indivíduos
que acossados pelo frio suportaram a fumaça. Muitos de nós
fomos preparados por uma longa seleção natural, que transcende
a nossa espécie, para suportar a agressão da fumaça.
Milhões de indivíduos foram eliminados nesse processo ao
longo de milênios.
Hoje, respiramos gases e partículas (ferro) que escapam das industrias.
É experiência nova, nenhuma geração foi testada.
Somos cobaias. O governo, ataca agressivamente e sem escrúpulo
o tabagismo, que é opção individual, e é condescendente
com a poluição que atinge a todos.
Enquanto o capixaba respira cada vez mais ferro, as indústrias
alcançam lucros astronômicos multiplicando a produção,
sem resolverem os problemas que criaram. As vantagens que nos oferecem,
algumas dedutíveis do imposto de renda, devem ser colocadas numa
equação, onde no outro lado apareçam: custo saúde,
higiene, danos a equipamentos eletro-eletrônicos e custo social.
A História econômica do Espírito Santo se divide em
antes e depois da Vale do Rio Doce. Quase centenária, a matriarca
das nossas empresas, com tantos filhotes, deve assumir a idade da razão.
Para se ter uma idéia do volume de ferro (Fe2) que respiramos diariamente,
basta passar um imã, desses que enfeitam geladeiras, sobre a poeira
que chega nas nossas casas.
No informativo “Vale Notícias”, janeiro de 2001, o
governador acena para a empresa com “benefícios fiscais e
financeiros” e o secretário do meio ambiente diz “A
empresa está dando resposta à altura do que foi exigido”.
Atacar a fumaça do cigarro e ser condescendente com a poluição
é insídia, prevaricação ou cortina de fumaça?
. Kleber Galvêas – pintor – bacharel em economia e licenciado
em ciências naturais – UFES
02/2001
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SOMOS
COBAIAS?
Desde Charles Darwin, naturalista inglês que pesquisou
no Brasil e publicou “A Origem das Espécies” em 1859,
sabemos que mudança no meio ambiente pode determinar fracasso de
uns e sucesso de outros seres vivos.
O fumo foi disseminado pelo mundo quando da descoberta da América.
Entretanto, muito antes disso “fumamos” compulsoriamente,
do nascimento até à morte. Há cerca de 800 mil anos,
50 mil gerações passadas, o homem dominou o fogo e convive
com a fumaça. Durante os longos períodos glaciais, que ocorreram
desde então, e que duravam aproximadamente 10 mil anos, essa convivência
foi bastante estreita. Quem não resistia à fumaça
da fogueira, eternamente acesa dentro da caverna pouco ventilada, morria.
Uma seleção se processou. Essas fogueiras, feitas com diferentes
materiais combustíveis, produziam, algumas vezes, fumaça
ainda mais tóxicas que o fumo. A nicotina estava presente pois
é encontrada em quase todos os vegetais, que dependem dela para
sua defesa contra fungos e parasitas diversos. Daí o uso do fumo
de rolo, pelos nossos agricultores, na composição das caldas
caseiras utilizadas no combate às pragas das plantações.
São dramáticas as histórias sobre os mineradores
de enxofre, na Roma Antiga, e do carvão, na Revolução
Industrial. Os coletores de sal de Macau, RN, têm seu drama contado
por José Mauro de Vasconcelos, em “Barro Blanco”. A
silicose, que liquida os trabalhadores nas pedreiras, em permanente contato
com a sílica, é fato comprovado.
Sempre que há exagero na exposição a um produto,
existe risco; representa desequilíbrio ecológico; é
mudança no nosso meio ambiente.
Toda a Grande Vitória e alguns municípios do interior vivem
dentro de uma calota, ou redoma, com ar saturado de partículas
de ferro e de minério de ferro, com diferentes dimensões.
Quanto mais distantes da fonte emissora, menores e mais perigosas são
as partículas que respiramos. O tamanho dessa calota pode ser percebido
usando-se óculos de camelô, que tenha lentes avermelhadas,
e olhando-se para o horizonte sobre o mar, onde é mais distante.
Sua composição pode ser pesquisada, em nossas casas, varrendo-se
a poeira que nos chega todos os dias, para uma folha de papel, passando-se
um imã (desses que enfeitam geladeiras) por baixo da folha. Faça
você mesmo essa experiência.
Quando assistimos à violência das ações do
governo contra o tabagismo (opção individual que requer
investimento) e a sua atuação quanto à poluição
atmosférica (que atinge a todos) ficamos confusos com esse desequilíbrio
ou desvio ético.
Somos a primeira geração a viver neste ar saturado de ferro.
Cobaias desprezíveis: as nossas Universidades não pesquisam;
o Governo vem autorizando duplicações das empresas poluidoras
da atmosfera, que não resolveram os problemas que criaram; oposição
e situação estão felizes com as contribuições
às suas campanhas eleitorais; as associações ecológicas
agradecem patrocínios; médicos, principalmente otorrinolaringologistas,
alergistas e pneumologistas, parecem satisfeitos com seus consultórios
lotados; juristas dormem o sono dos bem assalariados; artistas, cientistas,
religiosos, operários, estudantes e donas de casa, se calam seduzidos
pela propaganda, por conveniência ou ignorância.
Infelizmente não existem assombrações e cobaias mortas
não falam, embora estejam se remexendo em suas covas.
Kleber Galvêas, pintor. 04/05
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VALE
UMA HOMENAGEM.
A empresa que mais contribuiu para o crescimento econômico
do Espírito Santo foi a Vale do Rio Doce. O início de suas
operações, no nosso Estado, aliviou um grande problema.
Naquela época nossas cidades inchavam, com o abandono do campo,
devido à queda do café (ES, MG e RJ) e a quebra do cacau
(Sul da Bahia).
O complexo siderúrgico e empresas que surgiram em seu entorno,
capitanearam a transição para a atividade industrial no
ES, minimizando o desastre na agricultura. Embora o governador Cristiano
Dias Lopes, na época, afirmasse: “A Vale só deixa
para os capixabas o apito do trem”; em seu governo iniciou-se um
crescimento sem paralelo da nossa economia (inexpressiva e monótona
desde o séc. XVI).
Até 1960, Vila Velha possuía apenas torrefação
de café, fábrica de tamancos, marcenaria, fábricas
de prego, biscoito, guaraná, sabonete, bala e chocolate. O comércio
se restringia aos bares e armazéns de secos e molhados. O porto
de Paul e o Pela Macaco eram considerados de Vitória. Não
havia nenhum restaurante, só o hotel Tabajara. Um único
salão de beleza cuidava das unhas e cabelos, das damas. Vila Velha
se restringia à Prainha e Inhoá. Os dois distritos mais
populosos eram Argolas e Barra do Jucu. Nas areias da Praia da Costa víamos
mais vacas tomando sol do que banhistas. Tudo cresceu. Ficamos adultos
derrepente.
A transformação de Vitória se irradiou, de forma
acelerada, para todo território capixaba. Até então,
“lugar de toda pobreza“.
Durante sua fase estatal, a Vale era muito questionada quanto ao valor
da tonelada de minério exportado. Quando Hilal inaugurou sua galeria
na Praia do Suá, no princípio dos anos 70, Guilherme Minassa
apresentou uma interessantíssima instalação: um serviço
de chá em fina porcelana inglesa, sobre mesa forrada com toalha
de linho e tudo abarrotado de minério de ferro. Hoje, com a Vale
privatizada, os valores do minério sendo reajustados (100% + 15%,
com o aval da China) representam uma conquista significativa da empresa,
cobrada na instalação do artista há 35 anos. Guilherme,
atualmente, é jornalista em Belo Horizonte.
Bem encaminhado o problema do valor do ferro, resta resolver o da poluição
e os decorrentes do aumento espetacular da população de
novos capixabas. Toda atividade inicial de qualquer empresa traz gente
em excesso. Isso é agravado com a sua expansão, pois consolida
a idéia de saúde e vigor financeiro na área. A demanda
por serviços públicos se multiplica, exigindo enorme esforço
de quem a hospeda.
Quando da primeira edição do projeto A VALE, A VACA E A
PENA (1997) realizei, na primeira sala da minha galeria, uma homenagem
à Vale. Exibi desenhos do artista Stanislaw Warchalowiski, funcionário
aposentado da empresa, mostrando operários assentando trilhos,
feitos enquanto ele trabalhava na locação da Estrada de
Ferro Vitória à Minas. Estes desenhos, em bico de pena,
logo após esta exposição, foram doados à Vale,
pela família do artista. Integram o acervo do Museu Ferroviário,
onde figuram com destaque, pois são ali documentos únicos,
no gênero artístico.
O jongo, “estimamos nossa empresa/ que abastece o mundo/ resolvendo
o problema/ o amor será profundo”. Continuará sendo
cantado: É oportuno. Da nossa maior empresa, que tanto nos impressiona,
esperamos o melhor exemplo.
Homenagem, quando foi instituída na corte francesa, era uma cerimônia
em que o homenageado se comprometia a empenhar a própria vida,
na defesa de quem o distinguia. Quantas homenagens a Vale já recebeu
dos capixabas?
Kleber Galvêas – pintor abril/2006
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RESPIRANDO
FUNDO
Em busca de ar puro, minha família veio para o Espírito
Santo, há três gerações. Meu avô era
farmacêutico no Rio de Janeiro e, recém-casada, minha avó
ficou tuberculosa. Naquele tempo, ainda não se conheciam os antibióticos
(a penicilina só foi descoberta em 1940). O único tratamento
recomendado era o ar puro da montanha.
Meu avô radicalizou: vendeu tudo no Rio e embarcou num trem da Leopoldina
em direção à Serra do Caparaó, onde o Pico
da Bandeira era tido como ponto culminante do Brasil. Desceu na estação
mais alta da linha, Divisa (hoje Dores do Rio Preto, próxima ao
ponto de encontro do ES, MG e Rio) Lá comprou um terreno; construiu
casa e farmácia (Pharmácia Galvêas). Ela era completa:
sala de exames, alopatia, homeopatia, laboratório de manipulação.
Minha avó sarou e teve nove filhos. A farmácia prosperou
com a explosão do café arábica na Serra do Caparaó.
Meu pai foi estudar medicina na Praia Vermelha, Rio. Voltou formado sanitarista.
Casou; eu nasci e fomos morar em São Mateus, onde ele ajudou a
montar e dirigiu o primeiro Posto de Saúde Pública do norte
do ES.
Com a família no sudoeste e nós no nordeste do Estado, fazíamos
todos os anos, de 1949 a 1955, pelo menos duas viagens em diagonal, percorrendo
o ES de norte a sul. A primeira delas, atravessando uma floresta quase
contínua. Nas seguintes, passando sempre por queimadas que avançavam
até a estrada. Cruzávamos o Rio Doce de balsa, dentro de
um Austin ou Jeep, espremidos entre caminhões de 5 m de altura,
carregados de carvão.
Mudamos para a Prainha, Vila Velha, em 1955. A cidade se resumia ao nosso
bairro. A Praia da Costa era uma fazenda com bois. Entre ela e a Prainha,
apenas mangue e caranguejos. Acompanhei a explosão imobiliária
que deixou a Praia da Costa sem praças.
Em 1974, mudei para a bucólica Barra do Jucu. Na Rodovia do Sol,
sem pontes e sem asfalto, não circulavam carros. Concluída
a estrada iniciou-se a ocupação desordenada e a degradação
do entorno da Barra. O Rio Jucu virou um córrego e, na sua foz,
são lançados os esgotos de Araçás, Barra e
Terra Vermelha.
O ar poluído, diferente do tempo dos meus avôs e da minha
infância; a floresta destruída, sem que sequer soubéssemos
o que estávamos queimando; a Praia da Costa ocupada, 100 anos depois
de Copacabana (que preservou suas praças); e a degradação
absoluta da Barra do Jucu, foram transformações que acompanhei
de perto. Isto influenciou minha formação e provocou meu
caráter para a reação. Pesquisa recente indica que
Meio Ambiente é também preocupação de 2% dos
capixabas.
Enquanto for possível vamos respirar fundo, abrir os olhos, conhecer
nossa terra e sensibilizar o próximo.
Kleber Galveas, pintor. 04/2008
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DESENCANTO
NO CARNAVAL
“Desencanto” (1945) é um filme do premiado
David Lean (“Doutor Jivago” - 1965 “Lawrence da Arábia”
- 1962 e “A Ponte do Rio Kwai” - 1957). Nele o protagonista
é clínico geral em Londres, no princípio do séc.
XX. Angustiado, diz à sua amada que pretende trocar a medicina
curativa pela medicina preventiva, uma vez que seus pacientes com antracose,
calicose e silicose estão condenados a morrer com grande sofrimento,
tentando respirar. Explica que essas doenças pulmonares (adquiridas
pela inalação de poeira do carvão, siderúrgicas
e pedreiras) não têm cura, mas seriam evitadas com o controle
da poluição. O médico do filme, entendendo que não
poderia remediar o irremediável, trocou Londres pela África
do Sul.
Dicionários trazem o verbete POEIRADA: “Bras. pop. Providências
mentirosas para iludir quaisquer reclamações populares”.
Recolhendo, sobre folha de papel, a poeira que chega às nossas
casas todos os dias, e passando um imã sob a folha, aprendemos
a identificar e avaliar a presença de ferro nesta poeira. Nosso
governo, desinteressado em desenvolver equipamentos simples para identificar
e quantificar as partículas que circulam no ar (segundo funcionária
do IEMA - Instituto Estadual do Meio Ambiente) ignora o problema. Insiste
na poeirada: nomeia secretários comprometidos; aceita estudos feitos
sob o controle de empresas; prestigia artistas capixabas que vivem longe
daqui (Stênio Garcia, Eliza Lucinda) e que emprestam suas imagens
para propaganda maciça; pretendendo nos convencer que está
tudo limpo.
Numa jogada displicente, para levantar poeira, sambistas levaram para
a principal vitrine brasileira (carnaval da Sapucaí) uma imagem
sacana do Espírito Santo: o nosso chocolate (que não é
mais o mesmo) Tubarão (responsável por nosso inchaço
agudo) panelas de barro (de autenticidade duvidosa) e, gratuitamente,
prostituíram Maria Ortiz. Se a questão era uma dose de sensualidade,
porque não Luz Del Fuego? Moça educada em colégio
de freiras, parente de senador, naturista e vedete que se apresentava
dançando com cobras (símbolo da Caprichosos de Pilares)
de vida sensual muito divulgada pela mídia nacional, sua identificação
pelos cariocas seria fácil (viveu e fez sucesso no Rio). A escola
empoeirou nossa História, mas não despistou nossos problemas
atuais: liderança, poluição, educação,
segurança, transporte cultura e saúde (falta até
aspirina, outrora fabricada pelo IESP).
O castigo veio a galope: para a escola, o rebaixamento; para os capixabas
que desfilaram, a indiferença; para todos nós, um tiro no
pé.
O desencanto com o governo que descuida ações culturais
e ecológicas que nos maltratam, deve ser expresso. Ele está
na contramão da nossa Constituição Federal (Art.
196 e 215). Revela a ponta do iceberg formado pelo descaso com a nossa
cultura: dos nossos professores, retirou as horas de planejamento nas
escolas; confisca obra de todo artista que expõe em suas galerias;
embora Educação Artística seja matéria curricular
de todas as séries do 1º Grau, o Museu de Arte do Espírito
Santo, funciona como galeria; o Museu do Negro, dilapidado, cai aos pedaços;
há três anos fechou-se o Conselho Estadual de Cultura...
A Vila Izabel caprichou na avenida. Venezuelanos estão satisfeitos
com o investimento. O desfile da eterna Vila do Noel foi muito aplaudido.
Esse sim, inteligente, encantou!
Kleber Galvêas – pintor 02/06
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A
FORÇA DO VENTO – (A propósito da Audiência
Pública, dia 21/06 às 13:30 na AL/ES. Auditório I
– Poluição Atmosférica no ES).
Partículas em suspensão no ar (aerodispersóides)
provenientes da separação mecânica das substâncias
no estado sólido, causam doenças respiratórias irreversíveis
e morte dolorosa por insuficiência respiratória. São
“forte impulso” no desenvolvimento da tuberculose, alergias,
inflamações crônicas, neoplasias,..., em nosso organismo.
Quando constantes no ar ambiente, representam alteração
ecológica sutil, mas extremamente perigosa para todo ser vivo de
respiração pulmonar.
A poluição aérea no Espírito Santo é
problema grave e antigo. Desde o tempo da Kawasaki, 1970, o “X”
da questão é a localização das siderúrgicas.
Elas foram instaladas na Ponta de Tubarão, por pressão política
das entidades que representam o comércio em Vitória, e não
para atender a critérios estratégicos ou econômicos.
O homem é capaz de remover montanhas, mudar o curso de rios, construir
barragens, afastar o mar, fazer chover, atear ou apagar o fogo, e muito
mais. Entretanto, domar o vento livre na natureza é impossível.
Daí o vento ser a melhor metáfora para a Liberdade.
Tubarão está no caminho do vento nordeste que chega a Vitória,
o mais freqüente que sopra sobre o Espírito Santo. Derrama
sobre nós as partículas (ferro, carvão, sílica,
calcário) que recolhe, passando por Tubarão. A fatal silicossiderose
(Doença pulmonar provocada pela inalação de partículas
de minério de ferro – hematita) é a mais forte expressão
dos malefícios, comprovados, deste tipo de poluição.
Durante três décadas nossas empresas siderúrgicas
se esforçaram muito, e investiram pesado, buscando equipamentos
e práticas para minimizar esta poluição. Só
colecionaram fracassos. Ela cresce e aparece dia após dia e, com
um imã, a população identifica a principal fonte.
Como podemos permitir a duplicação do que não deu
certo? Da empresa que, em escala menor, não foi capaz de resolver
os problemas que criou?
A Vale goza de alta estima dos capixabas e existe um sentimento de gratidão:
foi a principal responsável por nos livrar do estigma de “lugar
de toda pobreza”, que persistia desde o séc. XVI. Uma nova
geração, melhor preparada, se forma em nossa terra, com
espírito crítico para avaliar e exigir qualidade de vida
e ecologia. Em breve estes jovens ocuparão seus espaços
na vida pública e com segurança saberão agir. A empresa,
com sua imagem desgastada por persistir no erro, tardiamente cederá
(Incorrendo em indenizações?).
Para o próprio bem das siderúrgicas instaladas na Ponta
de Tubarão, é preciso que seus novos investimentos sejam
direcionados para outra área e, que se pense na gradual transferência
das atividades siderúrgicas ali existentes.
Quanto, em dólares, as usinas localizadas em Tubarão contribuíram
para o montante de U$ 4 bilhões, que foi o valor alcançado,
em leilão, por toda a Vale, espalhada pelo mundo? O lucro anual
da empresa é de mais de U$10 bilhões, muitas vezes superior
ao custo da transferência, que se mostra prudente e necessária.
Ainda mais necessária e oportuna se faz, quando consideramos a
idade destas unidades de produção, a chance de expansão,
e o risco de desgaste da imagem da Vale (ainda tão admirada internacionalmente
e querida de todos nós).
A hora é esta: a empresa está capitalizada e pretende se
expandir; Vitória cresceu muito e tem alternativas econômicas
incompatíveis com a poluição; a consciência
ecológica da nossa juventude se mostra inquieta; os ventos são
favoráveis para uma viagem curta e tranqüila, de mudança.
Kleber Galvêas – pintor. 06/06.
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A
CIDADE E O VENTO
Ouvindo falar em poluição atmosférica
das cidades, pensamos em automóveis e na construção
civil. É certo que estas são fontes poluidoras sempre presentes
nestes ambientes. Entretanto a insistência nestes fatores, aqui
no Espírito Santo, tem colocado uma cortina de fumaça em
nossos olhos. Objetiva minimizar a substancial contribuição
da atividade siderúrgica, impropriamente desenvolvida na Ponta
de Tubarão, a sotavento da Grande Vitória.
Belo Horizonte e outras capitais têm mais automóveis circulando
e maior atividade na construção civil do que Vitória.
Entretanto se você passear por estas cidades vai observar famílias
reunidas nas varandas, muitas vezes comendo. Na nossa orla (menos vulnerável
a automóveis e construções) não se observa,
de ponta a ponta, a utilização das varandas abertas. Não
adianta limpar; a poeira negra, densa e viscosa, emporcalha tudo em minutos.
Anula este espaço privilegiado das casas e apartamentos.
A cor, brilho, densidade e o teste do imã denunciam a contribuição
da siderurgia á poeira atmosférica na Grande Vitória.
Belo Horizonte está localizada numa “cratera” de minério
de ferro. Entretanto se esfregarmos um imã na poeira mineira, ela
não dança no compasso dos seus movimentos.
Vivemos dentro de uma calota de ar saturado de partículas de ferro.
Usando óculos com lentes avermelhadas (de camelô da esquina)
podemos ver a densa borda desta grande calota, olhando para o horizonte
sobre o mar. Encontramos ferro passando um imã na poeira, que chega
a todo instante em nossas casas.
Nossa Constituição e o site do Ministério da Saúde
têm a justificativa e o roteiro para resolver este problema. Falta
aos nossos políticos, gestores do interesse social, motivação
para trabalhar neste sentido.
Não haverá ação legal eficiente: a mídia
está acomodada e partidos dependem da contribuição
em dinheiro das grandes empresas, para darem mais brilho e menos conteúdo
às suas campanhas eleitorais. Seremos sempre vendidos no mercado
livre dos interesses particulares. A melhoria das condições
atmosféricas só acontecerá com uma reforma política
que alcance o financiamento das campanhas eleitorais.
Não é humano (racional) o governo que concede licença
para expansão de uma indústria, que vem se mostrando incompetente
para resolver os problemas que criou em área densamente povoada.
Lutar, a beira mar, contra a força do vento nordeste capixaba;
querer armazenar e processar ali, quantidades fabulosas de ferro: é
temeridade quixotesca; ainda que esses quixotes modernos tenham recursos
quase infinitos, inteligência, e apurada formação
acadêmica. O desempenho deles na área financeira, elevando
o preço do minério e multiplicando o patrimônio da
empresa, é atestado de altíssima competência em gestão
financeira. Talvez esteja neste retumbante sucesso empresarial a maior
dificuldade para uma reflexão humana. Humildade é condição
para se reconhecer o erro e arrumar as malas, se afastar de Tubarão.
Dois ou três km para o interior, segundo Rusch e Bergman, minimizariam
o problema com o vento.
Há mais de 2 mil anos, cidadãos fenícios conseguiram
impedir que oficinas de tingir tecidos se instalassem a sotavento das
grandes cidades. O pigmento purpúreo utilizado era obtido pela
putrefação de moluscos apanhados no Mediterrâneo.
O mau cheiro uniu os moradores, para esta conquista no primitivo Líbano.
Nossos imigrantes libaneses nos ensinaram a arte do comércio, mas
esqueceram da milenar lição ecológica. A Associação
Comercial de Vitória, dos anos 60/70, defendendo sua praça,
apoiou a instalação das indústrias em Tubarão.
A convivência com elas (30 anos) e observação de seguidos
fracassos para reduzirem a poluição, exigem reflexão
e ação. Mudança no governo.
Kleber Galveas – pintor. 05/2007
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ECONOMIA
E BOM SENSO.
No carnaval 2006, Barra do Jucu, a música mais
cantada foi “Salvador Salvou”. Homenagem ao proprietário
da Metalúrgica União que duplicou sua empresa, criando empregos.
Com poluição sob controle e atuação social,
ele conquistou o barrense.
O Sudeste, após erradicação do café, conheceu
o inchaço das cidades e o desemprego. Iniciada a industrialização
da Ponta de Tubarão, foi grande o entusiasmo. Entretanto, duas
vozes se destacaram contra a localização desses empreendimentos:
Augusto Ruschi e Michel Bergman. As conseqüências apontadas
por eles para a qualidade de vida na Grande Vitória se confirmaram,
a despeito de promessas dos governos e das empresas. Há mais de
2 mil anos, fenícios proibiram indústrias de tingir tecido
(uma de suas principais atividades econômicas) de se localizarem
a sotavento das grandes cidades, devido ao mau cheiro. Tubarão,
além de odores, gases venenosos, poeira insidiosa, é uma
grande fornalha que aquece o vento nordeste, nosso antigo refrigério
por sua constância no verão. Segundo o Dicionário
Estatístico de Cezar Augusto Marques, no ano de 1878, a temperatura
média anual em Vitória, era 23º C.
A ocupação da Praia da Costa e do manguezal que a unia a
Vila Velha, revelou nossa displicência e falta de liderança.
Espaço ocupado, quase 100 anos depois de Copacabana, ao contrário
do bairro carioca, não tem nenhuma praça. Uma das mais belas
praias do mundo foi transformada em favela.
As demandas crescentes por energia, água, transporte, saúde,
educação, lazer, habitação e segurança,
nunca foram satisfeitas por nossos governos fracos, incapazes de exigir
das empresas atuação responsável. Elas produzem riqueza,
abastecem o mundo de ferro da melhor qualidade, mas dão origem
a problemas para quem as abriga, prove de mão-de-obra e suporta
pacientemente suas inconveniências.
A Ufes, incapaz de pesquisas autênticas, não produz material
para respaldar demandas por reparação de danos à
saúde, equipamentos eletro-eletrônicos e higiene. Nenhuma
ação indenizatória se sustenta sem pesquisa que a
fundamente. Isto sim, pipocando nos tribunais, convence acionista.
O turismo encolhe na proporção em que a poluição
aumenta. Hoje, há consenso, de que a localização
de siderúrgicas em Tubarão é imprópria. Como
concordar com a sua duplicação naquela área? O argumento
das empresas poluidoras é que, com a duplicação,
a poluição vai diminuir. Explicam que a nova unidade terá
filtros modernos e que as antigas também serão contempladas.
É bom testar esses equipamentos nas usinas existentes, para não
cairmos, mais uma vez, na mesma esparrela. Até ontem, eles diziam
que elas possuíam filtros eficientes.
Nosso governo financia campanhas agressivas e caras, combatendo o tabagismo,
que é opção individual. Quanto à poluição,
que atinge a todos, fecha os olhos.
Curiosa é a atitude de entidades que estão sempre dispostas
a atacar a Aracruz, e se calam quanto a Vale. Para empresas localizadas
no primeiro mundo, onde árvores custam dez vezes mais para crescer,
interessa que a produção de celulose da concorrente tupiniquim
seja cara e encontre dificuldades. A produção de ferro,
não. Só tem concorrentes no terceiro mundo e, esse insumo,
deve ter o menor preço para o primeiro mundo. Assim, delas não
se cobra segurança, higiene e responsabilidade ambiental.
Que as siderúrgicas cresçam junto às jazidas de ferro,
como ensina a cartilha de economia; ou ao longo do percurso, mas distantes
do Porto de Tubarão, como dita o bom senso.
Kleber Galvêas – pintor 03/06
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NA DÚVIDA, DESPERTAI!
Não
há dúvida de que grande quantidade de minério de
ferro (hematita) é lançada sobre nós, todos os dias,
pelas siderúrgicas localizadas em Tubarão. Aprendemos a
recolher poeira, em qualquer lugar das nossas casas, sobre folha de papel
e sob esta folha passar um imã: nossa poeira dança, no compasso
do imã, denunciando a presença do ferro. Ferro que, a todo
instante, é sugado por nossa respiração. Penetram
mais fundo, em nossos pulmões, as partículas menores e os
gazes que as acompanham. Gases e aerodispersóides microscópicos
(os mais perigosos) não são percebidos por cidadãos
desamparados; entretanto as partículas maiores denunciam a fonte
e 30 anos de fracasso para conter essa poluição. Segundo
cálculo da Comissão de Meio Ambiente da Assembléia
Legislativa, a partir de dados fornecidos pela Vale, são 23 toneladas/dia
que escapam da empresa.
Não há dúvida (para quem consulta médico,
ou o site do Ministério da Saúde - Comitê Assessor
em Doenças Pulmonares Ambientais e Ocupacionais) que inspirar pó
de hematita é prejudicial à saúde. A doença
característica é a silicossiderose, que não tem cura
e causa morte por insuficiência respiratória. Neste site
e em outros voltados para saúde pública, fica claro que
respirar ar com minério de ferro oportuniza doenças como
tuberculose, inflamações crônicas, alergias e neoplasias.
Durante as audiências públicas na Assembléia Legislativa,
a parceria do governo (IEMA) com a empresa poluidora (na impossibilidade
de continuar contestando o que o imã revelou) exibiu, como solução,
procedimento que já se mostrou impróprio: espargir água
sobre o minério durante o embarque. A umidade deprecia o produto,
ampliando a lista de fracassos das empresas, no controle da poluição.
O governo estadual se posicionou sobre a poluição aérea,
quando o governador Paulo Hartung, nomeou Secretária de Meio Ambiente,
a principal executiva da empresa que fez o Projeto de Impacto Ambiental,
indispensável para obtenção da licença de
duplicação das siderúrgicas. É de se observar
que CST e CEPEMAR (responsável pelo projeto) contribuíram
com dinheiro para a campanha eleitoral do governador. Assim a parcialidade
do IEMA (diversas vezes criticada pela Presidente da Comissão de
Meio Ambiente da AL, gravadas pela TV Assembléia, durante as audiências)
revela a predisposição subserviente do governo estadual.
Do Poder Público (executivo, legislativo e judiciário) pedimos
atenção para um problema grave que atinge a todos. Não
é opcional como o cigarro, combate ao qual tanto se dedicam. As
quatro últimas audiências públicas (na AL) aconteceram
com a presença de apenas dois deputados estaduais e nenhum federal.
Secretarias de saúde (estaduais e municipais) estiveram ausentes.
Partidos políticos não enviaram representantes.
A inexpressiva presença da sociedade civil neste debate, e a ausência
de setores organizados como universidades, associações,
sindicatos, conselhos e federações ligadas à saúde,
não se justificam. A pretensão de lideranças comunitárias
em negociar a saúde pública em troca de benefícios
para suas comunidades, foi reprovada pela Presidente da Comissão
de Meio Ambiente da AL.
Na hora em que existe a possibilidade da poluição aérea
ganhar o dobro da dimensão de hoje; sem passeatas, faixas, paralisações,
bloqueios ou bombas, mas atendendo ao chamado da ética profissional
e responsabilidade social, esperamos que nossa mídia e nossos candidatos
despertem a tempo de provocarem a dúvida.
Kleber Galvêas – pintor. 07/06
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O
CASO VALE
O Espírito Santo já foi vanguarda na educação
pública. Na década de 30 criou a Escola Ativa de Vitória,
(experiência documentada em livros publicados pelo DIO-ES). Na década
de 70, ES, MG, CE e RGS, trocaram Notas por Conceitos. Embora tenham sido
criados apenas quatro conceitos (A, B, C, D) para dificultar a equivalência
com notas (1 a 10) simbolizando a mudança da filosofia de ensino,
o Estado promoveu seminários com “luminares”, para
estabelecer esta relação. Discutia-se se A correspondia
apenas ao 10, ou a 10 e 9. Maquiavam a forma, ignorando o conteúdo
da mudança.
Se estes projetos educacionais tivessem sobrevivido à burrice estatal,
teríamos cidadãos com identidade e melhor preparados para
a globalização. A filosofia apregoada era trocar a ênfase
na informação pela formação integral (cognitivo,
afetivo, psicomotor); valorizar a observação; realizar experiências
e pesquisas; aplicar instrumentos práticos e teóricos na
investigação e anotações; aprimorar a aprendizagem
intelectual galgando a Taxonomia de Blum (conhecimento, compreensão,
aplicação, análise, síntese, avaliação).
Tendo obtido bom resultado no curso de pedagogia, fui convidado para atuar
como professor multiplicador. Estudávamos 30 horas com mestres
vindos dos grandes centros, contratados pela Secretaria da Educação.
Depois treinávamos colegas capixabas. Alguns mestres visitantes
desconheciam nossa experiência de vanguarda, outros conheciam a
idéia, mas estavam distantes da prática. Todos os professores
contratados e bem remunerados, no final de seus cursos agradeciam a aprendizagem
e reconheciam que retornavam com muito mais.
Depois destas experiências, a Secretaria de Educação
anunciou que escolheria o professor orientador entre nós. Entretanto,
quando da assinatura do contrato, o professor eleito notou que sua remuneração
seria insignificante, quando comparada a recebida pelos mestres alienígenas.
Não havia respeito, não houve acordo.
Vi pela TVE, ano passado, trechos das palestras promovidas no Museu Ferroviário.
Quase todos os mestres liam e citavam vários autores. Desconhecendo
nossa realidade, não fizeram referências à produção
local. Ignorando nossa história, um deles afirmou que nossa tradição
artística era rala, sem consistência.
Espero que este ano, dado o interesse nas inscrições, que
os mestres leiam menos, formulem opiniões originais claras e sejam
independentes.
A postura provinciana do Museu Ferroviário, super valorizando o
exótico e subestimando o local, encontra equivalência na
política cultural do governo do Estado. Depois de esperar sete
anos pela regulamentação do Fundo de Cultura, os capixabas
terão seus projetos culturais examinados e aprovados (ou não)
por avaliadores contratados, estranhos ao nosso ambiente. Esquecendo suas
obrigações inerentes, o governo nos entrega despudoradamente
à tutela cultural exótica. Talvez entenda ser isto globalização.
A arrogância de um governo sem oposição e a prepotência
do Museu Ferroviário que, com recursos públicos, pretende
divinizar seu estilo de “significado infinito” e de arte como
“idéia”, me lembrou a ironia de Nietzsche em “O
Caso Wagner” (1888): “Tudo o que Wagner não sabe fazer
é condenável. Wagner saberia fazê-lo muito melhor:
mas não quer – por rigor de princípios... Wagner é
divino”.
O capixaba positivo e operante existe, será encontrado trabalhando
e disposto ao diálogo, longe do Palácio Anchieta e do Museu
Ferroviário. Não por vontade própria. Por omissão
do governo e desprezando o patrocínio de empresas poluidoras, será
visto nos noticiários da tarde, e em pb, sem argumentos, nos suplementos
culturais.
Kleber Galveas. 02/2008
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CERCAS PARA VENTO
Cercas para vento, impropriamente chamadas de “Wind
Fences” (jornalistas locais não traduzem e escrevem com maiúsculas!),
com a intenção de dar-lhes dignidade diferente das telas
usadas em galinheiros, estão sendo implantadas na Ponta de Tubarão.
É mais um engodo da Vale, dizendo pretender reduzir a abundante
poluição que nos proporciona.
Ponta de Tubarão é local onde estão instalados o
porto e siderúrgicas gigantes, que processam, sem pausa, o minério
de ferro vindo in natura de Minas Gerais, para ser exportado. O vento
nordeste constante passa por ali com força, pouco antes de atingir
Vitória e seu entorno. Área mais densamente povoada do Espírito
Santo.
Desafiar o “nordestão” é temeridade quixotesca,
na qual a Vale investe cérebros e capital sabendo que vai perder.
Curiosamente, embora colecione fracassos e nos engane há mais de
30 anos, sempre consegue o que quer, cresce sem restrições
como em nenhum outro lugar do mundo.
A instalação das cercas obedece a um cronograma lentíssimo
de três anos. Prazo suficiente para a expansão da empresa
se consolidar. Desde 1998 eles sabem que as cercas não darão
certo: “com a instalação das cercas a poluição
aérea proveniente de Tubarão vai aumentar e atingirá
área mais extensa”, disse-me um representante da Vale, durante
a Audiência Pública na CMV, em 1998. Ele me explicou: “Sem
as cercas para vento, a poeira levada de arrasto pelo vento se precipita
em maior quantidade sobre o mar próximo, Camburi. Com as cercas,
provoca-se o movimento ondulatório do vento, e a passagem rápida
do ar sobre as pilhas de minério enclausuradas cria uma zona de
baixa pressão, propiciando a ascensão da poeira e consequentemente
a sua condução, com mais facilidade, para mais longe”.
É o principio da bomba de “flit”, usada para vaporização
a frio.
O projeto das cercas para vento é experimental. Ao contrário
do que afirmou a empresa (A Gazeta, 28/08/2008), não é usado
em nenhum outro lugar. Fui apresentado a ele pelo inventor, em 1998, na
Câmara Municipal de Vitória, durante Audiência Publica.
Acreditei de imediato na eficiência das cercas. Perguntei ao inventor
se ele já havia mostrado ao pessoal da Vale. Respondeu que sim,
mas que não deram importância.
Atravessei o salão e perguntei aos representantes da empresa ali
presentes, se eles conheciam o projeto, e apontei o inventor. Foi quando
um deles, engenheiro inteligente, me explicou as desastrosas conseqüências
dessa proposta. Sua lógica precisa matou meu entusiasmo com as
cercas e me convenceu da impropriedade delas.
As cercas para vento tiradas recentemente da cartola da Vale foram consagradas
pelo nosso governo dependente e pela mídia provinciana, com o nome
de “Wind Fences”, para nos impressionar e servir como cortina
de fumaça, para aprovarem e consolidarem a duplicação
da atividade siderúrgica ao norte de Vitória: Tubarão
e Serra.
As quixotices das siderúrgicas, tentando vencer o “nordestão”
de Tubarão, não têm nada de ingênuo, acumulam
mais de 30 anos de fracassos ambientais e sucesso empresarial. Ruschi
conhecia muito bem o poder desse vento e aconselhou não desafiá-lo.
Foi desdenhado.
Depois de tantas derrotas acumuladas, pondo em alto risco a saúde
pública, causando enorme desconforto aos cidadãos, prejuízos
sociais, materiais, financeiros e agredindo violentamente o meio ambiente,
é hora de exigirmos que: as siderúrgicas desacelerem a produção
nesse local impróprio (como acontece no mundo civilizado, proporcionando
períodos intermitentes de alívio aos cidadãos) e
mudem de lugar, o mais rápido possível.
PROVIDÊNCIAS:
1º - Convidar representante do Comitê Assessor em Doenças
Pulmonares Ambientais e Ocupacionais do Ministério da Saúde
para visitar o Espírito Santo e estabelecer cooperação
para investigar a poluição atmosférica.
2º - Impedir a construção de novas siderúrgicas
na faixa litorânea do Espírito Santo, considerando esta área
nobre, rica em paisagens naturais notáveis, como de interesse social,
para o desenvolvimento do lazer, esporte e turismo.
3º - Considerar como imprópria a contratação
e permanência no cargo de Secretária Estadual de Meio Ambiente,
a ex-diretora da empresa que realizou e realiza os projetos de impacto
ambiental, para as grandes empresas poluidoras, empresas que mais contribuíram
com dinheiro declarado, para a campanha política do governador.
4º - Estimular universidades e escolas técnicas a realizar
pesquisas científicas e a produzir laudos, que possam dar sustentação
às demandas judiciais que ocorram, provocadas por aqueles que se
sentem prejudicados pela poluição atmosférica.
Observação: A linguagem jurídica
é comunicação que toda S/A entende. Indenizações
reclamadas na Justiça é coisa que todo acionista teme
Kleber Galvêas, pintor. março/2010.
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VALE MAIS UMA HOMENAGEM?
A Vale contribui significativamente para
o crescimento econômico do Espírito Santo. O início das suas atividades, no
nosso Estado, aliviou um grande problema. Naquela época nossas cidades
inchavam, com o abandono do campo, devido à quebra do café (ES, MG e RJ) e
depois à do cacau (Sul da Bahia). Famílias inteiras se abrigavam debaixo
de pontes e marquises nas cidades, e o apelo de crianças -- “Dona, tem
sobra de comida?” -- era ouvido diariamente no portão das casas da
Prainha.
O complexo siderúrgico em Tubarão e as
empresas que surgiram em seu entorno aceleraram a transição para a atividade
industrial no ES, minimizando o desastre na agricultura.
Embora o governador Cristiano Dias
Lopes, na época, tenha afirmado que “A Vale só deixa para os capixabas o apito
do trem”, em seu governo iniciou-se um crescimento sem precedente na nossa
economia, inexpressiva e monótona desde o séc. XVI.
Até 1955, Vila Velha, com cerca de 30
mil habitantes, possuía apenas torrefação de café, fábrica de tamancos,
biscoito, guaraná, bala e chocolate. O comércio se restringia aos poucos bares,
quitandas e armazéns de secos e molhados. O porto de Paul, de Argolas e o de
Pela Macaco eram considerados de Vitória. Não havia nenhum restaurante, e
apenas o Hotel Tabajara. Um único salão de beleza cuidava das unhas e cabelos
das vilavelhenses. A cidade se restringia à Prainha e Inhoá. Os dois distritos
mais populosos eram Argolas e Barra do Jucu. Na Praia da Costa víamos mais bois
soltos do que banhistas. Tudo cresceu. Ficamos grandes de repente.
Durante sua fase estatal, a Vale era
muito questionada quanto ao valor do minério exportado. Quando Hilal inaugurou
sua galeria na Praia do Suá, nos anos 1970, Guilherme Minassa apresentou uma
interessantíssima instalação: um serviço de chá em fina porcelana inglesa,
sobre mesa forrada com bela toalha, e tudo abarrotado de minério de ferro. Com
a Vale privatizada, o preço do minério foi reajustado. O que representa
conquista significativa da empresa, cobrada na instalação do artista há 44
anos. Guilherme é jornalista em Belo Horizonte.
Bem encaminhado o problema do preço do
ferro, resta resolver o da poluição e os decorrentes do aumento espetacular da
população de novos capixabas, que demandam mais escolas, hospitais, transporte,
moradia, água, luz, lazer, cultura, mobilidade, espaços públicos...
Toda grande obra de empresas atrai muita
gente. Depois de concluída a instalação da Usina 8 (2014), que temporariamente
empregou milhares de operários, apenas 300 empregos foram criados (Informação
da Vale em Audiência Pública no Colégio Marista de Vila Velha). No Estado a
demanda por serviços públicos se multiplicou, exigindo enormes despesas e
esforço político redobrado. Essas empresas recolhem IPI (imposto federal) e o
Governo investe, no Espírito Santo, menos de 10% da arrecadação que leva daqui.
Somos o penúltimo Estado da Federação, na lista de repasses federais.
Quando da primeira edição do projeto A
VALE, A VACA E A PENA (1997), realizei, na entrada da minha galeria, uma
homenagem à Vale. Exibi desenhos do artista Stanislaw Warchalowiski,
funcionário aposentado da empresa, mostrando operários assentando trilhos,
feitos enquanto ele trabalhava como topógrafo, na locação da Estrada de Ferro
Vitória a Minas. Estes desenhos em bico de pena, logo após essa exposição foram
doados à Vale pela família do artista. Integram o acervo do Museu Ferroviário
onde figuram, com destaque, pois são ali documentos únicos no gênero artístico.
O jongo de congo -- “estimamos
nossa empresa/ que abastece o mundo/ resolvendo o problema/ o amor será
profundo” -- continuará
sendo cantado: é oportuno. Da nossa maior empresa esperamos o melhor exemplo de
sustentabilidade.
A Homenagem, quando foi instituída na
corte francesa, era uma cerimônia, em que o homenageado se comprometia a
empenhar a própria vida, na defesa de quem o distinguia. Quantas homenagens a
Vale já recebeu dos capixabas?
Kleber Galvêas, pintor Tel.
(27) 3244 7115 02/2015
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